segunda-feira, 22 de novembro de 2021

Ingo Hoffmann pilotando um Fórmula 3.000 em Interlagos? Calma que eu explico!







A imagem acima é um tanto pitoresca: a pintura do capacete, conhecida; a viseira clara ajuda a denotar o piloto que contorna a primeira perna do “S” do Senna, com um Fórmula 3.000. Para entender tudo isso, precisamos voltar ao ano de 1992, mais precisamente para o final daquele ano, quando tivemos um teste organizado pela Revista Auto Esporte no circuito de Interlagos, que rendeu uma bela matéria.


A equipe que cedeu o carro e a estrutura era a italiana Forti-Corse, que havia assinado um contrato junto ao piloto brasileiro Pedro Paulo Diniz, para cumprimento da temporada de 1993 da Fórmula 3.000. Trouxeram um modelo Reynard 92D, equipado com um propulsor Ford Cosworth DFV V-8 – sim, o já velho conhecido motor que estreou no Grande Prêmio da Holanda de 1967, com Jim Clark e Graham Hill na equipe Lotus – preparado pela empresa suíça Mader, e que naquela versão rendia 470 cavalos de potência.




O velho conhecido Ford Cosworth V8 ainda era utilizado na Fórmula 3.000 naquela época



Para o teste, além de Pedro Paulo Diniz, a revista convocou o piloto Paulo Carcasci, o jornalista/piloto Bob Sharp e Ingo Hoffmann, o piloto na foto que ilustra o topo da matéria. As fotos ficaram por conta de Silvio Porto. No caso do Ingo, sua última guiada em um monoposto datava do longínquo ano de 1978, uma prova em que venceu na categoria de Fórmula 2, portanto quinze anos de hiato.


Ingo, que chegou a virar o tempo de 1min37s06, deu a sua palavra e impressões do teste com o Fórmula 3.000 em Interlagos, para a matéria da revista Auto Esporte. Aspas para o “alemão”: “confesso que fiquei temeroso de dar alguma mancada que acabasse demolindo o carro e anulando a matéria, mas foi só encarar o espelho – ‘tome vergonha!’ – para que eu conciliasse o sono sem problemas. A última vez que havia guiado um monoposto foi em 1978, quando venci uma corrida de F-2 num March/BMW da equipe de Ron Dennis, atual dono da McLaren. É lógico que muita coisa mudou de lá para cá. Nas voltas que dei em Interlagos, preparei-me para fazer a aproximação das curvas com prudência. Mas deu para sentir a distância tecnológica que separa o F-3000 de hoje dos F-1 dos anos 70, quando pilotei o Copersucar-Fittipaldi. Os dois carros têm motor de 3 litros. Meu F-1 chegava a 530 cavalos a 9.800 rpm. Na F-3000, eles atingem 470 cavalos a 9.000 rpm, mas estes carros freiam mais, são melhores de curva, enfim, apresentam um pacote mais completo e seguro. Em certo momento, dei uma ‘botinada’ entre as curvas do Lago e Laranjinha: o ‘coice’ dado pelo motor foi tão saudoso quanto inacreditável. Deu para sentir que 15 anos são mesmo uma eternidade em se tratando de tecnologia automobilística.”




Bob Sharp (de macacão branco), Ingo Hoffmann, Paulo Carcasci (de macacão azul) e Pedro Paulo Diniz (dentro do cockpit)



Por fim, é importante ressaltar que, nesta época, o Brasil flertava fortemente com a Fórmula 3.000: Roberto “Pupo” Moreno havia sido campeão anos antes (1988), Christian Fittipaldi faturou o título na categoria em 1991 e em 1992, Rubens Barrichello fez uma ótima temporada, fato que fez o piloto ingressar na Fórmula 1 em 1993. E houve uma tentativa de realizar um campeonato de Fórmula 3.000 no Brasil na temporada de 1991, por iniciativa de Antônio Carlos Avallone. O promotor chegou a testar um carro da categoria em Interlagos, na semana do Grande Prêmio do Brasil daquele ano em Interlagos, mas o certame infelizmente nunca aconteceu.



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