A Chevrolet Marajó Pace Car

Quem acompanhou as atividades do Grande Prêmio do Brasil de Fórmula 1 de 1986, disputado no circuito carioca de Jacarepaguá, certamente viu com olhos de curiosidade os dois carros de serviço que estavam à disposição da direção de prova: duas Chevrolet Marajó, a perua do Chevette. A desenvoltura dos carros despertou a curiosidade para saber qual seria a preparação mecânica adotada.

A Marajó Pace Car

As duas Marajós, que foram pintadas de amarelo, se prestaram a serviços diferentes naquele fim de semana de Grande Prêmio: uma foi o Pace Car e a outra o carro de resgate. Os carros, como de praxe, foram devidamente equipados com os principais itens para resgate e salvamento: um extintor de grandes proporções, com capacidade para 40 quilos de carga, mais cinco extintores menores, de 1 quilo, além de um poderoso alicate hidráulico, capaz de cortar materiais espessos, materiais completos de primeiros socorros. Estava também instalado todo o equipamento de comunicação com a direção de prova e uma televisão de pequena polegada, sempre sintonizada na transmissão da corrida.

Mas vamos à preparação mecânica. Para acompanhar o ritmo dos Fórmula 1 e também chegar rápido aos locais onde eventualmente houvesse uma ocorrência de acidente ou a necessidade de um resgate, as Marajós foram equipadas com o consagrado motor de seis cilindros (250 S) do irmão de linha de produção, o Opala. São 171 cavalos de potência, que fizeram a pequena perua ganhar muita desenvoltura. Para que o grande motor "seis em linha" pudesse caber no cofre, foi preciso realizar adaptações, cortando parte da parede "corta-fogo" para acomodar o conjunto e acoplar à caixa de câmbio.

O bloco seis cilindros do Opala, devidamente acomodado no cofre da Marajó

Para encarar as curvas de média e alta velocidade, a Marajó ganhou um retrabalho na suspensão. Foi instalado um conjunto de molas do Opala e os amortecedores tiveram seus cursos recalibrados. Por fim, as peruas foram equipadas com jogos de pneus Pirelli CN36, medidas 175/70, aro 13, os mesmos que foram utilizados na temporada de 1984 no Campeonato Brasileiro de Marcas e Pilotos.

A revista Quatro Rodas, em sua edição de abril de 1986, testou uma das Marajós e rasgou elogios ao desempenho da perua: 0 a 100 Km/h em 9,4 segundos e velocidade máxima de 180 Km/h foram os principais indicadores de performance aferidos. A preparação dos carros ficou a cargo do experiente piloto José Fernando Lopes "Toco" Martins, que na avaliação da Quatro Rodas fez um excelente trabalho de customização.

O esportivo GT Mariella

 

Quem foi ao Salão do Automóvel da edição de 1994 teve a oportunidade de ver um protótipo esportivo fora-de-série que chamou muito a atenção do público. Com projeto do professor da FEI (Faculdade de Engenharia Industrial de São Paulo), Oscar Nishimura, o GT Mariella teve sua construção realizada com o auxílio de seus alunos. O nome do carro - Mariella - foi inspirado pelo nome da filha do professor, que na década de 80 chegou a produzir em Piracicaba, alguns mini-carros voltados para o público infantil.

O GT Mariella - clara inspiração no Dodge Viper

Em uma época em que a produção dos esportivos fora-de-série (como os Pumas e Miuras) estava perdendo força - muito pela abertura das importações de automóveis no início da década de 90 - a presença do GT Mariella no Salão despertou muita curiosidade. Em uma chamativa cor amarela perolizada, o esportivo tinha nítida inspiração no desenho do Dodge Viper. Como todo bom esportivo fora-de-série brasileiro, o carro era equipado com peças de outros modelos de produção nacional, como por exemplo, faróis dianteiros e lanternas traseiras do Chevrolet Corsa.

A ficha técnica do modelo era bem interessante. O esportivo era equipado com motor 2 litros do Fiat Tempra (que rendia 165 cavalos de potência), acoplado a um câmbio de Volkswagen Santana, montado entre as rodas traseiras. Os materiais de construção do carro eram o kevlar e o alumínio, o que faria do modelo um esportivo ultra-leve, com o total de 650 quilos e uma relação peso potência excelente, de 3,94 quilos por cavalo. Para parar o esportivo, os freios eram a discos ventilados, equipados nas quatro rodas.

A carroceria era acoplada a um chassi tubular, composto por dois tubos longitudinais e um central, que abrigava o eixo cardã, uma vez que a tração era nas rodas traseiras. As suspensões tinham uma construção e concepção bem moderna, com disposição independente, molas inclinadas, braços triangulares duplos na dianteira e tensores na traseira.

Segundo o seu mentor, Oscar Nishimura, o GT Mariella poderia alcançar a velocidade máxima de 250 Km/h. Nas palavras dele para a revista Quatro Rodas, "resgatamos o verdadeiro conceito de esportivo leve com performance". Infelizmente, o projeto sequer chegou à produção em escala. Mas impressionou pelo seu desenho e pela interessante ficha técnica.

Um fim de semana repleto de corridas em Interlagos - Turismo Nacional, Fórmula 4 e Mercedes Challenge - 6 e 7 de agosto de 2022

Estivemos presentes no fim de semana de velocidade em Interlagos, nos dias 6 e 7 de agosto. Foi um festival de corridas que fez relembrar os áureos tempos de "Race Day" que o autódromo vivenciou no início dos anos 90, com uma variedade excelente de categorias e carros e provas por todo o dia.

Tivemos etapas da Turismo Nacional, da Fórmula 4 brasileira e da Mercedes-Benz Challenge. O blog esteve presente no evento graças à força de um grande profissional, e que hoje eu tenho a honra de chamar de amigo: Deivicris de Cristo, o comentarista e embaixador mor da Turismo Nacional. Ao lado de Osires Jr., Deivi vem fazendo um trabalho digno de prêmio. No domingo, foram mais de 13 horas de trabalho nas transmissões. Absolutamente fantástico. Fica aqui o meu singelo parabéns e agradecimento pelo trabalho.

A Turismo Nacional, pela minha definição, é a categoria mais apaixonante do nosso automobilismo

Foram 18 (!) corridas no fim de semana. Para quem é aficcionado por corridas, independentemente de categoria, foi um absoluto regozijo. Mas vamos falar de todas as categorias que estiveram presentes em Interlagos.

Começo pela Fórmula 4. É uma alegria ver uma categoria escola, alinhada com a FIA, nascendo aqui no Brasil. Ela é e será o trampolim para desenvolver e lançar novos talentos para as categorias de topo do automobilismo mundial. O grande triunfo da categoria é disponibilizar aos jovens pilotos, já na sua primeira temporada, equipamento do ano - o chassi Tatus 2022 - o que proporcionará aos meninos chegar aos próximos passos muito bem atualizados, para brigar cada vez mais em pé de igualdade com os competidores estrangeiros.

Eu consegui ver bem de perto os detalhes do chassi do Fórmula 4 no parque fechado, a construção em fibra de carbono, o halo de proteção, os conjuntos de asa dianteiros e traseiros, as rodas da marca OZ e os detalhes do cockpit, como banco e volante. Muito interessante!

A se destacar também a transmissão das provas da Fórmula 4, que contou com a narração de Osires Jr. e do amigo Alex Grunwald, que estava em uma semana especialíssima na sua carreira: na terça feira anterior, lançou aqui em São Paulo o seu primeiro livro, a biografia do piloto André Bragantini Jr. - Ultrapassando Limites. Eu estive no lançamento, garanti meu exemplar autografado com dedicatória e dei um abraço no Grun.

Foram 3 corridas no fim de semana, duas no sábado e uma no domingo, com destaque para a primeira vitória de Fefo Barrichello na categoria, acompanhada da emoção da família Barrichello, presente no autódromo.

O fim de semana também foi de etapas da Mercedes-Benz Challenge, uma categoria que está, na minha opinião, na melhor fase da sua história. Com duas categorias em disputa, a CLA45AMG e a C300 disputaram duas corridas no fim de semana. A categoria também foi responsável por trazer um excelente público, principalmente no domingo, ao autódromo. Até voltas na pista em um ônibus especial, com os convidados, rolou.

E por fim, e não menos importante, tivemos a Turismo Nacional. Aliás, abro aqui um parêntese: precisamos falar sobre a Turismo Nacional!

Foi a primeira vez que acompanhei a categoria in loco e digo que fui profundamente impactado. Diversos fatores foram responsáveis por essa ótima impressão. O primeiro deles é o fato da categoria ser genuinamente multimarcas, não só no chassi mas também na motorização. Outro fator é o nível dos pilotos. As disputas são fantásticas, limpas e empolgantes. Temos lá os principais "botas" da tração dianteira no país.

Essa competitividade também é corroborada pelo regulamento técnico e desportivo e, não menos importante, do nível de profissionalismo das equipes e seus integrantes.

E não posso deixar de falar da belíssima "plástica" da categoria. Fiquei horas na beira da pista, no sábado e no domingo, e pude colher impressões das mais diversas. O visual dos carros é impactante. O som dos motores, ardido, metálico, somado ao barulho da indução de ar dos intakes dos motores aspirados, deixa qualquer aficcionado por automobilismo maluco! E a miríade de sons varia de acordo com o motor de cada marca. Sensacional!

Essa relevância dos sons mecânicos dos carros da Turismo Nacional foi ressaltada graças a adoção do abafador de escape, uma medida polêmica mas que, na minha opinião, foi muito válida.

Foi um fim de semana de estreia na Turismo Nacional. Debutou a nova categoria, a Pro, que trouxe inovações técnicas. A motorização é 2 litros e 16 válvulas, que debitam 200 cavalos de potência e 24,8 kgfm de torque. O câmbio tem acionamentos das seis marchas no volante, através de borboletas. Essa categoria promete muito e logo terá um grid cheio de carros novos.

Seguem os resultados da Turismo Nacional no fim de semana de Interlagos:

Sábado - 06/08/2022

TN Pro

Corrida 1

1) Mathias de Valle (Citroen C3), 8 voltas em 17min45s300
2) Rafael Reis (Chevrolet Onix), a 7s339
3) Marcelo Ditripa (Fiat Argo), a 10s838
4) Augusto de Freitas (Hyundai HB20), a 11s439
5) Guilherme Sirtoli/Thiago Rizzo (VW Up), a 25s446

Corrida 2

1) Mathias de Valle (Citroen C3), 8 voltas em 18min36s521
2) Rafael Reis (Chevrolet Onix), a 5s239
3) Marcelo Ditripa (Fiat Argo), a 9s789

4) Augusto de Freitas (Hyundai HB20), a 16s481
5) Guilherme Sirtoli/Thiago Rizzo (VW Up), a 19s294

TN A e B

Corrida 1

1) Roberto Bonato/Evandro Maldonado (categoria A, Hyundai HB20), 9 voltas em 20min07s559
2) Natan Sperafico/Willian Cezarotto (A, Nissan March), a 5s125
3) Gabriel Ymagawa (A, VW Gol), a 5s332
4) Ricardo Raimundo (B, Fiat Uno), a 6s448
5) Glauco Tavares (A, Chevrolet Onix), a 6s642

TN Super e Elite

Corrida 1

1) Gustavo Mascarenhas (categoria Super, Fiat Uno), 8 voltas em 21min00s316
2) Peter Ferter (Super, Toyota Etios), a 0s809
3) Fausto De Lucca (Super, VW Gol), a 2s844
4) Fabricio Lanconi/Nilton Rossoni (Elite, VW Gol), a 3s445
5) Eduardo Pavelski (Elite, VW Gol), a 3s540

Domingo - 07/08/2022

TN A e B

Corrida 02

1) Dudu Moratelli/Thiago Ginzelli (categoria B, VW Gol), 10 voltas em 21min51s030
2) Henrique Basso (A, VW Gol), a 2s474
3) Glauco Tavares (A, Chevrolet Onix), a 9s198
4) Natan Sperafico/Willian Cezarotto (A, Nissan March), a 9s277
5) Ted Barbiato (A, VW Gol), a 14s525

Corrida 03

1) Natan Sperafico/Willian Cezarotto (categoria A, Nissan March), 10 voltas em 20min53s163
2) Henrique Basso (A, VW Gol), a 0s624
3) Eduardo Bacarin (A, Fiat Mobi), a 4s922
4) Glauco Tavares (A, Chevrolet Onix), a 5s124
5) Roberto Bonato/Evandro Maldonado (A, Hyundai HB20), a 7s688B
Melhor na categoria B
9) Ricardo Raimundo (Fiat Uno), a 10s358

Corrida 04

1) Henrique Basso (categoria A, VW Gol), 8 voltas em 20min41s148
2) Ted Barbiato (A, VW Gol), a 0s891
3) Lorenzo Massaro (B, Chevrolet Onix), a 5s830
4) Bruno Tanq (B, VW Gol), a 5s892
5) Ricardo Raimundo (B Fiat Uno), a 6s889

TN Super e Elite

Corrida 02

1) Nilton Rossoni/Fabricio Lanconi (categoria Elite, VW Gol), 10 voltas em 21min42s047
2) Gustavo Mascarenhas (Super, Fiat Uno), a 2s541
3) Richard Heidrich (Super, Fiat Mobi), a 3s010
4) Eduardo Pavelski (Elite, VW Gol), a 3s505
5) Rafael Lopes (Super, Chevrolet New Onix), a 3s831

Corrida 03

1) Rafael Lopes (Super, Chevrolet New Onix), 10 voltas em 21min33s363
2) Richard Heidrich (Super, Fiat Mobi), a 0s460
3) Eduardo Pavelski (Elite, VW Gol), a 1s431
4) Gustavo Magnabosco (Super, VW Gol), a 1s688
5) Gustavo Mascarenhas (Super, Fiat Uno), a 2s216


Corrida 04

1) Rafael Lopes (Super, Chevrolet New Onix), 10 voltas em 20min25s807
2) Gustavo Mascarenhas (Super, Fiat Uno), a 0s151
3) Gustavo Magnabosco (Super, VW Gol), a 0s519
4) Fausto De Lucca (Super, VW Gol), a 2s106
5 ) Richard Heidrich (Super, Fiat Mobi), a 3s904
Melhor na categoria Elite
6) Nilton Rossoni/Fabricio Lanconi (categoria Elite, VW Gol), a 7s530

TN Pro

Corrida 03

1) Juninho Berlanda (Toyota Yaris), 11 voltas em 22min50s750
2) Mathias de Valle (Citroen C3), a 0s077
3) Marcelo Ditripa (Fiat Argo), a 7s601
4) Alberto Catucci (Hyundai HB20), a 19s235
5) Leonardo Reis (Chevrolet Onix), a 22s612

Corrida 04

1) Mathias de Valle (Citroen C3), a 11 voltas em 23min00s092
2) Marcelo Ditripa (Fiat Argo), a 2s094
3) Augusto de Freitas (Hyundai HB20), a 3s266
4) Leonardo Reis (Chevrolet Onix), a 17s396
5) Alberto Catucci (Hyundai HB20), a 26s858

Fotos (de minha autoria) de sábado - 06/08/2022 - clique nas imagens para ampliar

Fotos (de minha autoria) de domingo - 07/08/2022 - clique nas imagens para ampliar