quinta-feira, 13 de junho de 2019

24 Horas de Le Mans 1999 - as decolagens da Mercedes-Benz



Custou para a fábrica alemã Mercedes Benz retomar o seu envolvimento com as competições desde o longínquo ano de 1955, quando na ocasião das 24 Horas de Le Mans, a bordo de uma Mercedes Benz SLR, o piloto francês Pierre Levegh sofreu um gravíssimo acidente, decolando após bater no Austin-Healey de Lance Macklin e atingindo a tribuna da reta principal do circuito. Mais de 80 incautos espectadores morreram, além do próprio Levegh.


Nem é preciso se esforçar em dizer que este foi um dos mais graves acidentes da história do automobilismo de competição. A repercussão foi tão grande que as corridas foram proibidas na Suíça, veto que permanece até hoje, e a Mercedes decidiu abandonar o esporte a motor.


A retomada da fábrica alemã às competições, de forna oficial, se deu de forma tímida, em meados dos anos 80. Inicialmente, no Campeonato Alemão de Turismo, o DTM, sempre acompanhada da divisão de competições denominada AMG. Depois, iniciou uma parceria com a equipe Suíça de Peter Sauber, no Campeonato Mundial de Esporte Protótipo, na fase do regulamento Grupo C. Essa parceria foi tão forte que levou a Sauber para a Fórmula 1 em 1993, equipada com os potentes motores V10 da Mercedes.




A parceria de Sauber e Mercedes no extinto Grupo C


Em paralelo, no DTM a esquadra alemã alcançava sucesso com campeonatos conquistados por Klaus Ludwig e Bernd Schneider, com os modelos 190 Evolution e C-Klasse de primeira geração. Infelizmente, o DTM de primeira fase, após se internacionalizar e virar ITC, pelos altos custos demandados pela alta tecnologia existente à época na construção dos carros, acabou em 1996.


Esse foi o estopim para a marca alemã iniciar a construção em tempo recorde de um protótipo inspirado no cupê CLK e entrar de cabeça no Mundial FIA GT em 1997, uma reprodução do outrora Mundial de Esporte Protótipos, mas que agora trazia a divisão entre as categorias GT1 (com os carros GTP, praticamente protótipos, com séries limitadas de 25 unidades produzidas, onde a Mercedes se inseria) e GT2, com carros esporte de produção regular e em escala, como Porsche 911 GT2 e Dodge Viper. A Mercedes enfrentaria concorrentes de peso como a Porsche (com o 911 GT1), a McLaren-BMW (com o modelo F1) e a Panoz (com o modelo Esperante GT1) e teria a oportunidade de voltar a competir, de forma oficial, nas 24 Horas de Le Mans.




Schneider entre os CLK´s de rua e pista



Com o CLK GTR, a Mercedes foi imbatível nos campeonatos de 1997 e 1998. Bernd Schneider foi o campeão de 1997, conquistando 6 vitórias e ajudando a fábrica a vencer o certame entre os construtores. Em 1998, a dupla Klaus Ludwig e o brasileiro Ricardo Zonta sagraram-se campeões do FIA GT. A Mercedes venceu todas as etapas, arrasando a concorrência.




O brasileiro Ricardo Zonta foi campeão mundial do FIA GT em 1998



Para 1999, a Mercedes construiu um novo modelo, denominado CLR, equipado com motor V8 de 5,7 litros, ainda inspirado no cupê CLK, mas com um desenho e soluções aerodinâmicas mais evoluídas - e agressivas. Guarde essa informação para mais além dessa postagem.


A marca alemã não participaria do Mundial de FIA GT - por causa do seu próprio domínio nos dois anos anteriores, a categoria GT1 foi extinta para 1999. Restou à marca de Sttutgart concentrar seus esforços para a disputa das 24 Horas de Le Mans. Ela enfrentaria novamente forte concorrência de fábricas do cacife de Toyota, BMW, Audi e Panoz e, para batalhar, construiu 3 carros e convocou 3 fortes trincas de pilotos para a disputa. No carro número 4, estavam Jean Marc Gounon, Mark Webber e Marcel Tiemman. No carro número 5 correram Nick Heidfeld, Christophe Bouchut e Peter Dumbrek e no carro número 6, estavam Bernd Schneider, Pedro Lamy e Franck Lagorce.


As novas soluções aerodinâmicas da Mercedes mostraram-se perigosas já nas provas de qualificação da quinta-feira. O jovem australiano Mark Webber decolou na aproximação da Indianápolis, destruindo o protótipo. Os organizadores autorizaram os alemães a reconstruirem o carro e realizarem ajustes emergenciais nas suspensões traseiras, visando mitigar o risco de decolagem nas longas retas do circuito. Mas de nada adiantou: no aquecimento do sábado pela manhã, dia da corrida, Webber decolou novamente, agora na reta Mulsanne. O carro caiu de capota para baixo e se arrastou por vários metros. O piloto australiano mais uma vez nada sofreu fisicamente, mas visivelmente era possível notar a expressão de susto do jovem.








A sequência aterrorizante da decolagem de Mark Webber na manhã do sábado



A equipe alemã então participaria com os dois carros que restaram inteiros. Fez mais algumas mudanças aerodinâmicas buscando corrigir o efeito de decolagem dos carros. Mas, de nada adiantou e o susto maior estava por vir: na volta 75, no trecho de subidas e descidas de Indianápolis, o piloto escocês Peter Dumbreck, que vinha logo atrás de um Toyota GT-One, decola bem em frente às câmeras. O carro gira diversas vezes no ar, muito alto, caindo milagrosamente com as quatro rodas no chão, fora da pista, em um trecho de terra. Por sorte, os fiscais que estavam em um posto logo à frente não foram atingidos.


Nos boxes da equipe alemã, o que se vê são mecânicos e técnicos atônitos em frente aos monitores de televisão, ávidos por informações acerca do estado de saúde do piloto. O fantasma de Le Mans 1955 voltara a assombrar a poderosa Mercedes Benz. Por sorte, Dumbreck não sofre lesões graves, mas foi o basta para a equipe alemã: retiraram por segurança o carro que restava na prova, fecharam as portas dos boxes e nunca mais voltaram para Le Mans.





O vídeo com o vôo de Peter Dumbreck



2 comentários:

  1. Cara, essa história é um capítulo especial das 24 horas de le Mans, tanto pela tentativa da Mercedes em voltar à prova, como toda a tecnologia empregada nesses bólidos, como pela experiência "radical" vivida pelos pilotos. Meus parabéns pela matéria!

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  2. Muito boa essa história. Tempos depois o Webber voltaria a sofrer um outro acidente assustador, com outro protótipo alemão em interlagos.

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