domingo, 18 de junho de 2017

Do Fundo do Baú - Erdos nas 24 Horas de Le Mans de 1995


Ele é um piloto brasileiro mas aqui no país é pouco conhecido. Radicado na Inglaterra há mais de 20 anos, Thomas Erdos disputou diversas edições das 24 Horas de Le Mans, sendo muito respeitado e requisitado pelas equipes européias de endurance.







Na foto, vemos Thomas Erdos à bordo de um Marcos Mantara LM600, equipado com um poderoso V8 Chevrolet de mais de 6 litros. Além do brasileiro, a trica de pilotos era completada pelo britânico Chris Hodgetts e pelo holandês Cor Euser. O time, que disputou a competição na categoria GT2, não completou a prova.

quarta-feira, 14 de junho de 2017

O panorama atual das corridas de caminhão no Brasil


Como fã de automobilismo, sempre acompanhei as corridas de caminhões, de início, com muitas ressalvas. A primeira vez que assisti a uma corrida dos brutos foi no final de 1995, pela televisão, quando o SBT transmitiu, com a narração de Téo José e os comentários de Dedê Gomes, o festival de corridas entitulado "Brasil Super Truck". Alguns caminhões e pilotos que disputavam o campeonato europeu (dentre eles, o ex-baterista e ex-piloto de Fórmula 1, o sueco Slim Borgudd e o brasileiro Maurizio Sandro Sala, que foi convidado a pilotar um Mercedes-Benz) vieram para o Brasil disputar duas corridas, em Tarumã e Goiânia, com organização da Traffic Marketing Esportivo.




Djalma Fogaça em seu primeiro ano nos caminhões, 1997, ainda de Volvo - outrora entitulado "Caipira Voador", o sorocabano, hoje com a alcunha de "Monstro", é um dos líderes da nova categoria de caminhões do país




Minhas conclusões iniciais davam conta de que corridas com caminhões eram algo bem longe do que se poderia chamar de "esporte a motor", em que pese a categoria aqui no Brasil (que teve sua temporada inaugural em 1995) sempre contar com forte apoio das fábricas, muitos pilotos de notável talento e a anuência do público, que lotava a cada etapa as arquibancadas dos autódromos país afora.




Aurélio Batista Félix em Londrina, no ano de 1995 - o início do sonho do visionário


Até que, mais precisamente no ano de 2008, fui, como se costuma dizer, 'tirar a prova dos nove", em Interlagos e assisti a uma prova. Queria ver "a olho nu" e sentir o que é de fato uma corrida de caminhão. Foi a melhor atitude que poderia ter tido para tirar o "ranço" inicial. Todos os pré-conceitos formados caíram por terra quando os primeiros brutos foram para a pista. Os sons, cheiros, a vibração e a sensação de velocidade deixam qualquer apaixonado por automobilismo ficar encantado.

A partir de então, passei a admirar e acompanhar a Fórmula Truck da mesma forma como sempre acompanhei as demais modalidades do esporte a motor. Criada pelo falecido Aurélio Batista Félix, um abnegado e apaixonado pelo grande evento que elaborou, a categoria desde o seu início contou com a participação oficial das principais montadoras de caminhões do país. Patrocínios e parcerias de peso não faltaram por 20 anos. Aurélio infelizmente faleceu em 2008 e sua esposa, Neusa Navarro Félix e os filhos passaram a tocar a administração da categoria a partir de então.



O clássico Truck de Oswaldo Drugovich Jr. no ano de 1999



Alçada a principal certame de automobilismo do país, a Fórmula Truck lentamente passou a enfrentar problemas ao longo dos últimos anos. A situação começou a complicar-se mais fortemente há aproximadamente 3 anos atrás. Patrocínios e apoios passaram a rarear-se e diversas fábricas retiraram os apoios oficiais. Equipes e pilotos passaram a reclamar da falta de ação dos organizadores e de abertura para diálogo e exposição de novas idéias. Os organizadores, por seu turno, alertavam que as equipes e pilotos estavam querendo tomar o controle da categoria, alegando também que todo o apoio para os times nunca foi sonegado.

Importante ressaltar que aqui não vamos julgar quem está certo ou errado. Cada lado desta história tinha e tem suas razões e argumentos. O que lamentamos (e eu acredito que todo brasileiro fã de motorsports também deve lamentar) é que não houve espaço para diálogo entre as partes que divergiram. O estopim de toda essa discordância culminou, em 2017, em uma cisão na Fórmula Truck. Todas as principais equipes e pilotos, com exceção das equipes cujos donos são os organizadores, saíram da categoria e criaram um novo certame de caminhões, denominado Copa Truck, trazendo um novo formato de disputa.

Como em toda cisão de categoria (o exemplo da Cart / IRL em 1996 ilustra bem isso), as seqüelas invariavelmente são doloridas. E infelizmente já conseguimos enxergar isso. A Fórmula Truck manteve seu formato tradicional e realizou até o momento 3 etapas, no Velopark (RS), Rivera (Uruguai) e em Londrina. Em todas, tivemos pouca participação de caminhões e a presença de pilotos desconhecidos em sua maioria. Em Rivera, a categoria mostrou sinais de que poderia melhorar, realizando uma ótima prova dentro e fora da pista. O público compareceu em massa para acompanhar a inédita prova no país.


Mas a categoria sofreria um baque antes da etapa de Londrina: seu principal piloto, o tetracampeão Wellington Cirino, anunciava a sua saída para a Copa Truck. Em Londrina, Walmir Benavides, o Hisgué, substituiu Cirino, porém menos de 10 caminhões tomaram o grid de largada. Não era um bom sinal. A etapa de Cascavel, prevista para o dia 3 deste mês, foi cancelada por conta das fortes chuvas na região. O reagendamento foi feito para o fim de semana de 17 e 18 de julho, porém nesta quarta-feira a organização anunciou, sem maiores explicações, o cancelamento definitivo desta etapa, com a devolução aos torcedores dos valores de ingressos já adquiridos.

Esses fatos negativos acendem uma luz de alerta para a categoria máxima de caminhões nacional. A Copa Truck, recém criada pelos dissidentes da Fórmula Truck, já realizou duas etapas da "Copa Centro-Oeste", em Goiânia e em Campo Grande, com televisionamento do canal por assinatura Sportv. É uma fase de consolidação de um novo formato, que demanda um trabalho de garimpo de público. Não é uma tarefa fácil, principalmente pelo fato das corridas não serem transmitidas em canal aberto, algo que a Fórmula Truck tem como vantagem com a transmissão pela Bandeirantes.

Em resumo, é um momento delicado para as corridas de caminhões no país. Para o fã de motorsports brasileiro, o desejo é que as duas categorias consigam se consolidar e se manter saudáveis, agregando cada vez mais pilotos, equipes e apoios de montadoras e patrocinadores. E que o sonho daquele cara visionário e inquieto chamado Aurélio Batista Félix não se acabe.

sábado, 3 de junho de 2017

Do fundo do baú - Race of Legens 2005 - DTM Norisring


A organização do DTM, Campeonato Alemão de Turismo, resolveu criar um evento de caridade reunindo grandes pilotos do automobilismo e motociclismo mundial, no fim de semana da tradicional prova nas ruas de Norisring, Nuremberg, na temporada 2005 do certame alemão.




Emerson Fittipaldi mostrou boa forma e venceu um dos três segmentos com o Audi TTR



Seis feras foram convidadas: Emerson Fittipaldi, Alain Prost, Nigel Mansell, Jody Scheckter, Johnny Cecotto e Michael Doohan. As três marcas participantes do DTM em 2005 disponibilizaram cada uma dois carros. A Mercedes-Benz colocou dois C-Klasse na pista, a Opel dispôs de dois Vectras GTS V8 e a Audi colocou na pista um A4 e um TTR.



O folder oficial do evento


A competição foi formatada com 3 segmentos principais onde os pilotos andaram com os carros das três marcas. Cada piloto dava 3 voltas rápidas, valendo a melhor volta para a classificação de cada segmento.


No primeiro segmento, a distribuição dos carros e pilotos foi a seguinte:

- Jody Scheckter - Audi A4 DTM
- Alain Prost - ABT Audi TTR
- Mick Doohan - AMG-Mercedes C-Klasse
- Emerson Fittipaldi - AMG-Mercedes C-Klasse
- Nigel Mansell - Opel Vectra GTS V8
- Johnny Cecotto - Opel Vectra GTS V8



O multi campeão de motovelocidade Mick Doohan recebe as explicações do piloto da Audi, Alan McNish


A vitória no primeiro segmento ficou com Prost. O francês cravou a sua melhor volta com a vantagem de mais de 1 segundo para o segundo melhor, Emerson Fittipaldi. Mick Doohan, o único motociclista exclusivo, já que o venezuelano Cecotto fez sua carreira nas duas e quatro rodas, sofreu com a falta de intimidade e ficou com a última colocação.



Alain Prost em ação com o Audi TTR


Segue a classificação final do primeiro segmento:

1º - Alain Prost (FRA) - ABT Audi TTR - 49s920 - 6 pontos
2º - Emerson Fittipaldi (BRA) - AMG-Mercedes C-Klasse - 51s381 - 5 pontos
3º - Jody Scheckter (AFS) - Audi A4 DTM - 51s631 - 4 pontos
4º - Nigel Mansell (ING) - Opel Vectra GTS V8 - 51s740 - 3 pontos
5º- Johnny Cecotto (VEN) - Opel Vectra GTS V8 - 51s756 - 2 pontos
6º - Michael Doohan (EUA) - AMG-Mercedes C-Klasse - 53s128 - 1 ponto


Para o segundo segmento, troca de carros e mais voltas rápidas. Ao final, vitória novamente de Alain Prost. O francês correu de Mercedes e fez a melhor volta na casa dos 50 segundos, seguido de perto pelo Audi TTR do venezuelano Johnny Cecotto. O norte-americano Doohan, que foi pentacampeão da motovelocidade, novamente ficou com a última colocação.


Veja a classificação final do segundo segmento:

1º - Alain Prost (FRA) - AMG-Mercedes C-Klasse - 50s437 - 6 pontos
2º- Johnny Cecotto (VEN) - ABT Audi TTR - 50s596 - 5 pontos
3º - Nigel Mansell (ING) - Audi A4 DTM - 50s888 - 4 pontos
4º - Jody Scheckter (AFS) - AMG-Mercedes C-Klasse - 52s126 - 3 pontos
5º - Emerson Fittipaldi (BRA) - Opel Vectra GTS V8 - 52s190 - 2 pontos
6º - Michael Doohan (USA) - Opel Vectra GTS V8 - 52s367 - 1 ponto




Allan McNish e Nigel Mansell


Após dois segmentos, a classificação da competição era a seguinte:

1º - Alain Prost - 12 pontos
2º - Nigel Mansell - 7 pontos
3º - Emerson Fittipaldi - 7 pontos
4º - Johnny Cecotto - 7 pontos
5º - Jody Scheckter - 7 pontos
6º - Mick Doohan - 2 pontos




Johnny Cecotto conseguiu uma segunda posição no terceiro segmento com a Mercedes C-Klasse



Prost ia então com boa vantagem para o terceiro e último segmento, em que pese ter que correr com o pior carro das três marcas, o Opel Vectra. Neste momento também já estava claro que o Audi TTR era, visivelmente, o carro mais rápido nas grandes retas de Norisring. Tanto que a vitória no terceiro segmento ficou com o brasileiro Emerson Fittipaldi a bordo do bólido da marca dos quatro anéis.


A classificação final do terceiro segmento foi a seguinte:

1º - Emerson Fittipaldi (BRA) - ABT Audi TTR - Audi 50s493 - 6 pontos
2º - Johnny Cecotto (VEN) - AMG-Mercedes C-Klasse - 50s578 - 5 pontos
3º - Alain Prost (FRA) - Opel Vectra GTS V8 - 50s667 - 4 pontos
4º - Nigel Mansell (ING) - AMG-Mercedes C-Klasse - 50s987 - 3 pontos
5º - Michael Doohan (EUA) - Audi A4 DTM - 52s154 - 2 pontos
6º - Jody Scheckter (AFS) - Opel Vectra GTS V8 - sem tempo




O sul-africano Jody Scheckter


Ao final dos 3 segmentos, Alain Prost sagrou-se campeão do desafio de caridade do DTM, com vitórias em dois segmentos. Veja a classificação final da competição:

1º - Alain Prost (FRA) - 2min31s183
2º - Nigel Mansell (ING) - 2min33s615
3º - Johnny Cecotto (VEN) - 2min33s859
4º - Emerson Fittipaldi (BRA) - 2min34s064
5º - Michael Doohan (EUA) - 2min38s009
6º - Jody Scheckter (AFS) - 6min43s757




O leão Nigel Mansell (na foto saindo dos boxes com o Opel Vectra GTS V8) sagrou-se vice-campeão da competição




O prêmio de 500 mil euros foi simbolicamente entregue a Prost, que direcionou para doação de diversas entidades de caridade espalhadas pelo mundo. O francês, que tinha testado em 1995 uma Mercedes do DTM, gostou muito da experiência: " Os carros mudaram e estão mais próximos do que é um monoposto, como um Fórmula 1. E eu gosto muito disso", arrematou o tetracampeão.



Da esquerda para a direita: Scheckter, Cecotto, Prost, Mansell, Fittipaldi e Doohan