sábado, 17 de abril de 2010

Entre curvas, retas e freadas - Episódio 1

Já passava das onze e meia da noite, mas tinha de dar a notícia para eles. Depois de muita luta, briga por patrocínios, contatos, muita conversa e reuniões, conseguíamos alcançar o objetivo de montar nossa equipe para correr na Le Mans Series, a série mundial de carros Grã-Turismo, um dos maiores campeonatos do mundo.

- Alô, Regi?

- Fala meu chapa? Tudo bem? Me ligando a essa hora? Tá tudo bem?

- Pois é, tenho uma excelente notícia! Conseguimos fechar a parceria com a Honda, eles vão fazer o V-12 para o nosso protótipo!

- Não acredito! Já avisou o Tatá!

- Ainda não. Eu liguei mas ele não atendeu, devia estar no banho (risos). Regi, avisa os teus patrocinadores que eles estão dentro do esquema!

- Beleza camarada! Já vou disparar um e-mail agora mesmo.

- Maravilha! Vou avisar o Tatá. O Luis está aqui comigo, eu recebi a notícia e já avisei ele. Aquele abraço!

- Outro, tchau!

Agora era a vez de ligar para o outro companheiro de equipe.

- Tatá?

- Fala meninão! Você tentou me ligar? Tava no banho!

- Imaginei. Tatá, conseguimos, a Honda vai fazer o V-12 para nós!

- Caralho! Não acredito! Jesus!!!

- É isso mesmo, Tatá, vamos disputar a Le Mans Series 2010!

- Nossa não acredito, sabia que o Homem lá de cima ia nos ajudar! Vou avisar o meu velho agora!

- Tatá, vou falar o mesmo que falei para o Pereira, avisa os teus patrocinadores que eles estão dentro.

- Beleza meninão, deixa comigo!

- Maravilha, então até amanhã!

- Abraço!

Eles não sabiam da outra surpresa. A Honda, por conta da parceria e do fornecimento dos motores, nos concederia nosso Team Manager, que seria nada mais nada menos que o ex-piloto Gil de Ferran, que nos traria muita experiência não só no campo desportivo mas também no técnico, já que Gil, poucos sabem, também é engenheiro. Gil sempre teve uma forte ligação com a fábrica japonesa e agora seria nosso chefe de equipe. A notícia foi dada no dia seguinte e todos ficaram felizes e esperançosos de formar um grande time.

Depois de duas semanas, no início de Janeiro, estavamos em Cumbica embarcando no Boeing 747, o famoso Jumbo, da Japain Airlines, rumo à terra do Sol nascente, para finalmente instalar o V-12 no nosso chassi, feito aqui e que havia rumado para o Japão na semana anterior, e entrar pela primeira vez na pista de Suzuka para o início dos testes da pré-temporada.

No circuito, depois de os meticulosos mecânicos de olhos puxados começarem cedo o trabalho de instalação do motor e de todos os componentes, foi a vez de dar a partida e sair para fazer as voltas de instalação. Essa primazia coube a Reginaldo, que foi o primeiro de nós quatro a fazer o banco, que é moldado sob medida para cada um.

Depois de 8 voltas, Regi volta para o boxe. Tira o capacete, a balaclava e nos conta o que viu e sentiu. "Cara, tá tudo em ordem, nenhuma luz de emergência acendeu. Ele sai um pouco de traseira, principalmente nas curvas de alta, mas isso a gente melhora com o acerto. Mas o V12 fala alto!

Depois de mais uns ajustes, o tanque foi completado e Reginaldo voltava para a pista para mais 25 voltas. Todos andariam as mesmas 25 voltas, sempre com um jogo de pneus novos para cada um, e de tanque cheio. Depois do Pereira, foi a vez do novato Luiz Henrique andar. Após, Tatá foi conferir como andava o protótipo e cumpriu suas voltas. Eu seria o último a andar.

Depois que todos andaram, era a hora de analisar os gráficos da telemetria e conversar com os engenheiros e os responsáveis pelo motor, para darmos o nosso feedback das reações do carro na pista. Uma reunião rápida de 15 minutos com o nosso ilustre chefe de equipe para traçarmos os próximos passos dos testes e fomos todos para trás dos boxes de Suzuka para, finalmente as duas e meia da tarde, almoçarmos.

Não teríamos mais atividades neste primeiro dia de testes. Então, fomos os quatro para a mureta dos boxes para conversar um pouco, enquanto descansávamos do almoço e das atividades de pista da manhã. Foi então que, celebrando este momento especial de começo de uma temporada que prometia muito, fizemos uma retrospectiva da carreira de cada um.

Nos conhecemos na base de tudo, o kartismo, a grande escola do automobilismo. Apesar da rivalidade, a amizade sempre marcou as nossas trajetórias. Depois, a vida trilhou caminhos diversos para cada um de nós e agora estávamos juntos de novo.

Tarcísio, por exemplo, trilhou o caminho dos Fórmulas. Foi campeão da Fórmula 3 Sul-Americana quebrando o recorde de vitórias em uma mesma temporada, depois foi para a Europa e em dois anos já era o campeão da Fórmula 3 Inglesa. O caminho natural era a GP2 e para lá ele foi correr. E depois da primeira temporada em uma equipe média, conseguiu a terceira colocação na tabela. No segundo ano de GP2, mais experiente e em uma equipe mais estruturada, foi campeão da categoria. Neste mesmo ano, ele disputou o Europeu de Ferrari Challenge, a primeira categoria de Turismo da sua carreira. Realizou seu sonho de pilotar para a marca do Cavallino Rampante e foi campeão da temporada. Os títulos da GP2 e do Ferrari Challenge renderam a Tarcísio um convite que fez realizar o seu grande sonho. Em 2010, ele seria o piloto de testes da Ferrari na Fórmula 1, dividindo as atividades com as provas da nossa equipe na Le Mans Series, com a promessa de, no futuro, ser um dos titulares da equipe Rossa. Também tornou-se um dos representantes exclusivos da Ferrari no país, com duas lojas em São Paulo, onde também são vendidas as luxuosas Maseratis.

Já Reginaldo nunca escondeu sua paixão pelas duas rodas. Após sair do kart, foi disputar as categorias de acesso do motociclismo nacional. Nas cilindradas menores, foi um destruidor de recordes e acumulou vitórias e títulos. Já não tendo mais o que disputar no Brasil, uma vez que havia ganhado em todas as categorias que correu, foi para a Europa, com o apoio de ninguém menos que Alex Barros. A escolha foi pela "Meca" do motociclismo mundial, a Espanha. Depois de vencer o principal campeonato nacional, quebrando o recorde de voltas rápidas em quatro das das dez pistas do calendário, veio o convite da Yamaha para disputar o mundial de SuperBike. Depois de um ano de desenvolvimento da moto, em que os resultados não foram tão satisfatórios, no segundo ano de categoria Reginaldo sagra-se campeão mundial de Superbike, após uma intensa batalha com o italiano Max Biaggi, da forte equipe Aprilla. Nestes dois anos, Reginaldo ajudou a equipe da Yamaha a desenvolver a MotoGP, como piloto de testes, de Valentino Rossi e Jorge Lorenzo.

Mas a paixão pelas 4 rodas nunca deixou Reginaldo e ele decidiu dar uma guinada de 180 graus na sua carreira, indo para os Estados Unidos correr na Indy Lights. A re-adaptação ao volante não foi fácil, além do aprendizado nos circuitos ovais. Mas o estilo agressivo das duas rodas sempre se fez presente e, depois de três anos, conquistava o título da categoria em 2009.
Nesse meio tempo, Reginaldo montou em São Paulo, próximo do Autódromo de Interlagos uma escola de pilotagem de motociclismo, para descobrir e revelar novos talentos para o motociclismo nacional, além de ministrar cursos de pilotagem e direção defensiva para o motociclista do dia-a-dia.

O novato do quarteto é o meu sobrinho, Luiz Henrique. Ele cresceu no meio da gasolina, dos pneus e da graxa. Arrasou no kart, depois correu na extinta Fórmula Renault, onde adquiriu um enorme aprendizado. Foi campeão no segundo ano de categoria, quando correu também em paralelo na Fórmula 3 Sul-Americana e fez algumas provas no TC-2000 argentino pela Ford, a principal categoria de Turismo dos nossos "hermanos" e uma das mais fortes do mundo. O ano passado, disputou o brasileiro de Stock Car V8. Conquistou duas vitórias e foi o terceiro colocado na temporada.

Eu também sai do kart e fui para as categorias de Fórmula. Com poucas opções aqui no Brasil, fui para a europa bem novinho correr na Fórmula Ford inglesa. Foi uma categoria que trouxe muito aprendizado, já que os pneus utilizados são radiais e não há aerofólios e asas. Fui campeão inglês e depois surgiu a oportunidade de correr no Japão, numa categoria chamada Fórmula Nippon, uma espécie de GP2 japonesa. Corri por quatro anos lá e fui bi-campeão da categoria. Estes resultados me proporcionaram o convite para correr pela Audi na Le Mans Series. Conseguimos vencer com o Audi R10 as 24 Horas de Le Mans, meu grande sonho, além de conquistar o campeonato, após uma intensa batalha com o protótipo da Peugeot, o 908 HDI.

Bem, depois desse verdadeiro "túnel do tempo", era a hora de irmos para o hotel descançar, pois no dia seguinte teríamos mais uma bateria intensa de treinos em Suzuka. Treinaríamos por mais duas semanas no Japão e rumaríamos para Silverstone, na Inglaterra, para mais três semanas de testes, onde seriam realizados os últimos acertos no protótipo para o início da temporada que logo chegaria.

Bem, a sequência dessa história você acompanha em breve aqui no blog. Um abraço!


Bom galera, vocês não devem ter entendido nada, não é? Começa hoje e vai até o fim do ano essa mini-série sobre uma temporada fictícia de emoções automobilísticas. O intuito é de divertir e entreter vocês com essa mini-série idealizada hoje. Deixem seus comentários sobre o que acharam disso tudo.

2 comentários:

  1. Cara!!, Isso foi/é espetacular. Achei que vc tivesse sonhado tudo isso e depois colocado no papel, mas já vi que é puro TALENTO pra escrever. Parabéns. Em vez de "AS crônicas de Nárnia, O Leão a Feiticeira e o Guarda-Roupas", seriam "As crônicas de José Carlos Pace, o Fórmula, o Protótipo e Gran Turísmo". Um grande abraço. Pereira

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  2. Caramba irmão, pura viagem, rsss.

    Mano o que você está tomando ultimamente??? Bom, seja o que for, acho melhor você diminuir a dosagem, é muuuuiiiiiittttaaaa viagem, mas muito legal.

    O que interessa mesmo é que entre um parágrafo e outro você conseguiu tirar muitas das minhas risadas.

    Essa história ficou muito boa e estou ansioso para ler as próximoas e, enfim, ver no que isso vai dar. rsss.

    O mais legal nisso tudo é a sua paixão pela escrita, então, quero te dar os parabéns e principalmente por você se atentar aos detalhes, para um bom virginiano isso é muito importante.

    Abraço,

    Tata.

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