quinta-feira, 6 de fevereiro de 2025

A história do Campeonato Brasileiro de Fiat 147


Na segunda metade da década de 1970, o Brasil vivia um período marcado por transformações econômicas e sociais significativas. O regime militar, que perdurava desde 1964, promovia uma série de políticas voltadas para o desenvolvimento industrial, buscando modernizar a economia e reduzir a dependência de importações. Nesse cenário, a chegada da Fiat ao Brasil em 1976 simbolizou um marco importante na indústria automobilística nacional. A escolha do Fiat 147 para ser produzido no país representou não apenas a introdução de um modelo inovador e moderno, mas também uma resposta estratégica às demandas do mercado local.

O Fiat 147 se destacou como o primeiro automóvel brasileiro movido a álcool, alinhando-se às iniciativas do governo para diversificar as fontes de energia e incentivar o uso de combustíveis alternativos em um momento em que a crise do petróleo ainda impactava a economia global. Essa inovação não apenas consolidou a imagem da Fiat como uma marca comprometida com a sustentabilidade, mas também colocou o Brasil na vanguarda da utilização de combustíveis renováveis na indústria automobilística. Assim, o Fiat 147 tornou-se um símbolo de modernidade e inovação para a época.





Não demorou para o Fiat 147 ser levado para as pistas de corrida. Já em 1977, a primeira corrida oficial com o carrinho foi realizada no autódromo de Interlagos, no mês de novembro. Ao todo, 24 Fiats 147 participaram dessa prova, que teve a pole position conquistada pelo piloto Dedê Gomez (Equipe Fiat Mirafiori/Mobil). Muitos dos carros que tomaram parte dessa primeira corrida eram carros de rally, modalidade que a Fiat passou apoiar logo que se instalou no país. A vitória ficou com o piloto Roberto Sávio (Fiat Milano).



A temporada de 1978


Para a temporada de 1978, a Fiat passou a apoiar oficialmente esporte a motor, como tradiciolnamente fazia nos países onde mantinha sua operação de produção de automóveis. Este apoio veio em conjunto com a criação, no automobilismo nacional, da Divisão 1 - FISA – Classe A – para carros de produção nacional com motorização de até 1.300 cc. Era a categoria certa para os Fiats 147, que dominaram a participação. Além da Classe A, a Divisão 1 tinha a Classe B, onde se enquadravam carros com motores de 1.300 cc a 1.600 cc – onde o Volkswagen Passat dominava – e a Classe C, que era destinada a carros com motores acima de 3.000 cc, onde participavam majoritariamente os Chevrolet Opala. Cada classe faria suas corridas de forma individual. Esta organização dos campeonatos movimentou o automobilismo de competição no país, com ótima adesão de pilotos, preparadores e patrocinadores.

No caso da Divisão 1 – Classe A, eram admitidos carros nacionais cuja produção deveria ser acima de 5 mil unidades no espaço de 1 ano. As modificações no motor e câmbio eram restritas. No caso do propulsor, era permitido o balanceamento de peças para torná-las mais leves, como pistões, bielas, comando de válvulas. Velas especiais também eram permitidas. Com esses ajustes, a velocidade final dos 147 beirava os 160 km/h e a aceleração de 0 a 100 km/h ficava em torno dos 12 segundos. O conjunto de suspensão e molas deveria ser original e apenas os amortecedores poderiam se de livre procedência. O tanque de combustível também deveria manter as características originais. Para a montagem da “gaiola” interna de proteção ao piloto, as barras deveriam ser fixadas em quatro pontos principais no assoalho do monobloco, com a adição de um reforço diagonal. Os pneus deveriam ser radiais de produção e a escolha geral recaiu para dois modelos, das marcas Pirelli (o tradicional Cinturatto CN-15) e os Firestone.

O calendário foi formatado por meio de provas classificatórias regionais, divididas em regiões. A região Sul receberia competidores do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, com provas sendo disputadas nos autódromos de Cascavel, Tarumã e Guaporé. A região Sudeste teria em disputa pilotos do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais, com corridas nos circuitos de Jacarepaguá e Interlagos – o torneio Rio-São Paulo. Por fim, na região Centro-Oeste pilotos do Distrito Federal e Goiânia disputariam as classificatórias nos autódromos de Brasília e Goiânia. Os regionais eram abertos a pilotos de outras localidades, porém só pontuariam para a final nacional os competidores federados naquela região No final do ano, os pilotos classificados em suas respectivas regiões disputariama grande final, composta por duas provas válidas pelo campeonato brasileiro, em Brasília e Goiânia.

A primeira prova classificatória do torneio Rio-São Paulo foi disputada no Autódromo da Barra em Jacarepaguá, em 18 de março de 1979. A vitória ficou com o piloto carioca Bob Sharp depois de uma bela disputa contra Giuseppe “Pino” Marinelli, italiano, que dividia sua atuação nas pistas de corrida com o trabalho na fábrica da Fiat. Destaque também para as brigas entre os pilotos José Rubens Romano “Coelho”, Nelson Silva e Luis Cláudio Tavares.

A primeira prova classificatória da região Centro-Oeste para o campeonato brasileiro de Divisão 1 foi realizada na capital federal, em 23 de abril de 1978. Os treinos classificatórios foram disputados com chuva e a pole position foi conquistada pelo piloto local Ruyter Pacheco, com a marca de 3min11s99. Em seguida vieram Paulo Gomes, Oscar Carvalho, Alencar Jr. e Ubaldo Lolli.

A prova, que contou com 37 carros no grid, foi dominada por Paulo Gomes, que liderou todas as voltas da prova, seguido pelos pilotos locais Ruyter Pacheco e Oscar Carvalho, que junto do lider abriram grande vantagem para o restante do pelotão. A emoção ficou reservada para o grupo intermediário, com brigas animadas entre os pilotos Ubaldo Lolli, Alencar Jr., Bob Sharp e Luiz Evandro “Águia”. Ao final, os três primeiros colocados foram desclassificados por irregularidades técnicas em seus carros. A vitória então ficou com o piloto quarto colocado na disputa, José Romano “Coelho”, da equipe Jolly.

A terceira etapa classificatória foi disputada em 11 de junho de 1978 no autódromo do Rio de Janeiro. Foi um festival de polêmicas e protestos sobre irregularidades técnicas. Atila Sipos, da equipe Milano, cravou a pole position e na corrida disparou na frente. Cruzou a linha de chegada levando mais de 17 segundos de vantagem para José Romano “Coelho”. A partir daí, um festival de recursos foram solicitados para vistorias técnicas dos carros, acerca de suspeitas de irregularidades. Bob Sharp pediu revisão no carro do vencedor Atila Sipos, do terceiro colocado Cláudio Castilho de Souza e também de Mário Lucio da Matta. Atila, por sua vez, reivindicou vistoria nos carros de Bob Sharp e José Romano “Coelho”. O resultado das apurações técnicas só ficou pronto na quarta-feira pós corrida, mantendo a vitória para Atila Sipos e desclassificando José Romano “Coelho” e Cláudio Castilho de Souza por irregularidades nos motores. O destaque desta prova foi o jovem piloto Fabio Sotto Mayor, que duelou bonito contra o experiente Bob Sharp e terminou na quarta colocação.

A quarta etapa classificatória foi realizada em Interlagos, no dia 2 de julho. Mais uma vez, o Grupo A deu show de disputas dentro da pista. O grid contou com 35 Fiats e nos treinos classificatórios, Atila Sipos conquistou mais uma pole position na temporada. José Romano e Bob Sharp vinham na sequência. A categoria ainda vivia o clima da polêmica da última etapa disputada, válida pela classificação para a final nacional, onde ocorreu um festival de protestos, justamente envolvendo os três primeiros colocados no grid de largada desta etapa.

A briga pela vitória ficou monopolizada entre Atila Sipos, José Romano e Bob Sharp. Romano nitidamente tinha melhor desempenho nos trechos de reta dos quase oito quilômetros do traçado de Interlagos. Sipos levava vantagem no miolo do circuito e o piloto creditava esse desempenho a um trabalho especial que desenvolvera no acerto de suspensão do seu Fiat. Com essas diferenças de desempenho, Romano chegou a tomar a liderança de Sipos por duas oportunidades, na forte freada da curva 3, depois do longo retão. E uma das oportunidades, Sipos logo retomou a frente na curva 4. Na outra, Romano conseguiu sustentar a ponta mas Sipos logo tratou de ultrapassá-lo na freada da curva da Ferradura. Depois de oito voltas a vitória ficou com Atila Sipos, seguido de José Romano e Bob Sharp. Atila teria um fim de semana perfeito, uma vez que também venceu a corrida do Grupo B, com Volkswagen Passat.

As polêmicas extra-pista continuaram na temporada de 1978. Na etapa em Goiânia, Atila Sipos, depois de se atrasar no começo da prova, passou a escoltar seu companheiro de equipe Eduardo Gomes que liderava a corrida, bloqueando as ações de outros competidores. Esta atitude levou os comissários a desclassificar Sipos da prova. A confusão se estendeu para discussões nos boxes e houve um pedido da equipe Jolly/Vasp para que Sipos fosse suspenso da próxima etapa, a sexta do ano do Torneio Rio-São Paulo em Interlagos. A decisão foi acatada e Sipos sequer recorreu, em protesto contra a decisão dos comissários. José Romano “Coelho” faturou a vitória, depois de largar da pole position e ser escoltado pelo seu companheiro de equipe Luis Otávio Paternostro. O jogo de empurra e vácuo entre os dois deixou uma boa vantagem para o terceiro colocado, o carioca Jorge Freitas.

A temporada de 1978 terminaria com as finais do campeonato brasileiro, com as disputas de uma prova em Goiânia e outra em Brasília. Atila Sipos esteve em ótima forma nas duas corridas. Em Goiânia, o piloto do Fiat 147 de número 64 largou em último e escalou o pelotão. Foram 28 voltas de recuperação, com a liderança sendo conquistada na última volta, ultrapassando Luis Otavio Paternostro. Em Brasília, Sipos largou na pole position e brigou diretamente contra Paternostro pela vitória, com diversas alterâncias da liderança da corrida. A vitória de Sipos no planalto central sacramentou a conquista do titulo do Divisão 1 – Classe A, deixando Paternostro como vice-campeão da temporada.




Disputas na nona etapa do Torneio Rio-São Paulo






Bob Sharp à frente de Luis Otávio Paternostro






Paulão Gomes seguido de Giuseppe Marinelli, Luis Otávio Paternostro e Attila Sipos






Registro dos Fiats em Brasília









O pelotão em Brasília







O mar de 147 em Jacarepaguá




Atila Sipos em Jacarepaguá





José Rubens Romano "Coelho"





Paulo Gomes










Bob Sharp








Atila Sipos à frente de José Romano "Coelho"





A bela imagem dos Fiat´s cortando a grande reta de Interlagos




Ubaldo Lolli





A temporada de 1979


A temporada de 1979 da Divisão 1 mantinha o mesmo formato de disputa do ano anterior, com a disputa de torneios classificatórios regionais e a decisão do campeão brasileiro em corridas realizadas no final do ano. Na região sul, cinco provas seriam realizadas no Rio Grande do Sul e três em Cascavel, definindo os 20 melhores pilotos para a fase final. No regional Rio-São Paulo, a classificatórias comporiam cinco provas em Interlagos e cinco no Rio de Janeiro, definindo 50 vagas para última fase. O regional do Centro teria três provas em Brasília e três em Goiânia, classificando os 20 melhores para a grande final. Por fim, o regional Norte-Nordeste teria seis provas em Fortaleza e concederia 10 vagas para a disputa final. Todas as provas seriam disputadas simultaneamente com as provas válidas pelos campeonatos estaduais, mas com classificações separadas.

Com o domínio do Volkswagen Passat na classe B, do Chevrolet Opala na Classe C e do Fiat 147 na classe A da Divisão 1 no ano anterior, a Confederação Brasileira de Automobilismo oficializou que estas classes seriam monomarca a partir de 1979. No caso da Classe A da Divisão 1, os Fiat 147, por definição do regulamento técnico, deveriam ter o peso mínimo de 700 quilos e o alívio de peso era possível graças à retirada os pára-choques, suporte dos pára-choques, estepe, isolamentos acústicos, bancos e protetor de cárter. A grande mudança era a mudança da motorização, que agora seria de 1.300cc. Este novo propulsor havia sido lançado na linha de produção em fins de 1978. O cabeçote do motor poderia ser retrabalhado nos dutos de admissão e escape, além da liberação da adição de calços nas molas de válvulas. A taxa de compressão era livre e o coletor de escape poderia ser trabalhado internamente. Os ajustes de suspensão permitiriam ajustar a cambagem. O uso de molas de outros carros da marca Fiat estava liberado. As rodas utilizadas deveriam ser de aro 13, de fabricação nacional, e de até 6 polegadas de largura.

A classe A da Divisão 1 acabou popularmente sendo chamada de Copa Fiat. No regional Rio-São Paulo o domínio inicial seguiu com os pilotos dominantes do ano anterior: Atila Sipos e Luis Otavio Paternostro. Pater, como era chamado, tratou de vencer a segunda etapa do torneio, em Interlagos, desbancando uma forte concorrência composta por pilotos como o próprio Atila Sipos, além de Helio Horário, Murilo Pilotto, Renato Conill, José Romano “Coelho”, Antônio “Janjão” Freire e Luis Antônio “Teleco” Siqueira Veiga. Paternostro também faturou a terceira etapa do torneio Rio-São Paulo, desta vez com a prova sendo disputada no Rio de Janeiro. Os bons resultados o colocavam neste momento na liderança do torneio.

E não foi somente no Torneio Rio-São Paulo que Luis Otávio Paternostro obtinha bons resultados. A abertura do regional Centro, Pater levou a vitória em Goiânia. Levou, mas seus pontos não valeram para a classificação da final, uma vez que o piloto não era federado na região. O piloto melhor colocado da região foi mineiro Giuseppe Gravina.

Na quarta etapa do torneio Rio-São Paulo, disputada no autódromo de Interlagos, foi a vez de Toninho da Matta mostrar a sua força. O piloto mineiro era o atual campeão da Divisão 1 na Classe B, com Volkswagen Passat, e agora passava a também figurar nos grids dos Fiats 147. A primeira bateria foi dominada por Toninho da Matta, que brigou pela vitória contra Atila Sipos, que ficou para trás depois que um furo lento de pneu fez com que seu carro perdesse rendimento. Foi uma bateria agitada. O gaucho Antônio “Janjão” Freire se enroscou com José Romano “Coelho”, que levou a pior e bateu forte no guard-rail na saída da curva da Ferradura. Depois o próprio Janjão Freire teve um acidente no mergulho, abandonando a prova. Mais tarde, um toque entre Atila Sipos e Renato Connil fez com que o último abandonasse a prova com seu Fiat destruído. A segunda bateria teve a vitória de Atila Sipos, com destaque para as ótimas disputas entre Luis Otavio Paternostro, Toninho da Matta, Antônio “Janjão” Freire e Andreas Mattheis. Com a soma dos resultados, o vitorioso foi o mineiro Toninho da Matta.

O feriado de 7 de setembro de 1979 ficou marcado na história do esporte a motor nacional por ter sido realizado o “Festival de Marcas”, que marcou a primeira iniciativa para tentativa do uso do álcool como combustível para as competições nacionais, depois que o governo federal ameaçou acabar com as competições, por conta da crise do petróleo da época. Foi a primeira iniciativa de utilização do combustível renovável em competições automobilísticas no mundo. O evento, que ficou marcado como “Festival do Álcool”, foi disputado no autódromo de Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, contou com realização de provas das principais categorias do país: Fórmula VW 1.300, Fórmula Super Vê, Fórmula Ford, Stock Car, Divisão 3 e Divisão 1 e duas sub-categorias. Mais de 50 mil pessoas acompanharam as corridas nas arquibancadas do autódromo carioca. Na Copa Fiat de Velocidade, o gaúcho Walter Soldan venceu as duas baterias.

Na etapa que definiu o título brasileiro da Copa Fiat de Velocidade, no dia 16 de dezembro de 1979 em Interlagos, o gaúcho Walter Soldan sagrou-se campeão brasileiro. Atila Sipos foi o vice.



Janjão Freire à frente de Luis Otávio Paternostro





Antônio "Janjão" Freire





Janjão Freire em Cascavel, com as marcas da batalha na sua porta






Atila Sipos à frente de Luis Otávio Paternostro em Interlagos





Hélio Horácio Matheus com Janjão Freire colado





Hélio Horácio Matheus em Cascavel






Hélio Horácio Matheus em Jacarepaguá






Registro da tomada da curva da ferradura em Interlagos






Luis Otávio Paternostro sendo seguido de perto por Atila Sipos






Luis Otávio Paternostro em Interlagos






O mineiro Toninho da Matta em Interlagos




Walter Soldan em Cascavel






Walter Soldan em disputa no autódromo de Jacarepaguá






A temporada de 1980


A temporada de 1980 do Campeonato Brasileiro de Fiat 147 começou o ano com uma prova em Cascavel, no mês de abril. A primeira bateria foi vencida pelo gaúcho Antônio “Janjão” Freire. Na segunda bateria, foi a vez do paulista Hélio Horácio Matheus vencer. Na soma dos resultados a vitória na etapa ficou com Janjão Freire. O destaque ficou para a piloto da cidade de Campinas Ana Lúcia Walker, de apenas 19 anos, que obteve a quinta colocação na etapa. Ana Lúcia já havia conquistado uma vitória no regional de Fiat em Fortaleza e também em um rally no Paraná.

A trupe do Campeonato Brasileiro de Fiat 147 rumou para o Rio de Janeiro para a disputa da segunda etapa em Jacarepaguá, para o cumprimento de 3 baterias. A primeira bateria teve um lance inusitado logo na largada, quando o fiscal responsável por dar o sinal luminoso apagou e tornou a ligar as luzes, causando confusão entre os pilotos. Quase houve um acidente pelo “efeito sanfona” do grid e a direção de prova logo deflagrou bandeira vermelha, cancelando a largada. Ao final das 10 voltas, a vitória ficou com Luis Otávio Paternostro, que também venceria a segunda bateria. Na terceira disputa, a vitória foi conquistada por Atila Sipos. Na soma dos resultados, deu Paternostro.

A terceira e quarta etapas do campeonato brasileiro seriam disputadas no Rio Grande do Sul, respectivamente nos circuitos de Tarumã e Guaporé. Foi um desempenho avassalador do estreante piloto gaúcho Aroldo Bauermann, que faturou as duas etapas e já assumiu a liderança do campeonato de pilotos. Em Tarumã, a segunda bateria foi palco de um susto protagonizado pelo piloto Antônio “Janjão” Freire. O gaucho disputava a liderança com Luis Otavio Paternostro e tentou ultrapassar o adversário por fora na curva 1. Um leve toque entre os dois foi o suficiente para fazer Janjão rodar e bater de traseira no guard-rail. O carro decolou, voou por cima da barreira e rolou barranco abaixo fora da pista, para além de quatro metros. Janjão não se feriu no espetacular acidente.

A quinta e sexta etapas do Campeonato Brasileiro de Fiat 147 foram disputadas com a diferença de uma semana no autódromo de Interlagos, depois do cancelamento da prova em Jacarepaguá. As corridas tiveram a direção de prova do experiente Mario Patti. Na pista, foram duas etapas de sonho para a equipe Milano, com a conquista da vitória na quinta etapa por Luis Otavio Paternostro e da sexta por Atila Sipos, que com os resultados conquistava a liderança do campeonato naquele momento.

O Campeonato Brasileiro de Fiat 147 seguiu para a região central do Brasil para a disputa da sétima etapa, em Brasília. Luis Otávio Paternostro faturou o caneco na capital federal. Uma semana depois, a oitava etapa foi sediada em Goiânia e teve um vencedor inédito, o piloto carioca Telmo Maia. Paternostro neste momento liderava o campeonato com 15 pontos de vantagem para seu companheiro na equipe Milano, Atila Sipos.

O certame voltou para Interlagos para o cumprimento da nona e penúltima etapa. Antônio “Janjão” Freire venceu a etapa e deu um bom crédito do triunfo ao seu preparador Clóvis de Moraes. O resultado alçou Janjão para a vice liderança do campeonato de pilotos. E a derradeira prova da temporada de 1980 foi disputada no autódromo de São Paulo. A segunda colocação na etapa foi suficiente para a conquista do título de pilotos de Luis Otavio Paternostro. O gaúcho Antônio “Janjão Freire” venceu a etapa e assegurou o vice-campeonato.




A piloto Ana Lúcia Walker em Cascavel






Antônio "Janjão" Freire em Cascavel












Janjão Freire em Jacarepaguá







Janjão Freire sendo seguido por Luis Otávio Paternostro de porta-malas aberto







Janjão Freire à frente de Ruyter Pacheco








O gaúcho Aroldo Bauermann em Tarumã













Os Fiat´s 147 em Goiânia







Hélio Horácio Matheus em Cascavel







A tomada da curva da ferradura em Interlagos












Luis Otávio Paternostro à frente de Atila Sipos







Marcos Troncon em Interlagos







As disputas em Jacarepaguá






José Romano "Coelho" em Cascavel







José Romano "Coelho" dentro do seu Fiat em Jacaerpaguá







   Luis Otávio Paternostro e Atila Sipos em Jacarepaguá








Luis Otávio Paternostro






O carioca Murilo Piloto em Interlagos






Murilo Piloto em Tarumã







Disputa "quente" entre Renato Connil e Atila Sipos em Goiânia






O gaúcho Renato Connil em Cascavel







A disputa em Tarumã






Telmo Maia em Goiânia




O carro de Luis Otávio Paternostro





A simplicidade do habitáculo




















A temporada de 1981


O Campeonato Brasileiro de Fiat 147 ganharia em 1981 uma categoria parceira nos fins de semana de corrida. Era lançada a Fórmula Fiat, que utilizaria os antigos chassis da Fórmula VW 1.300, mas agora com a instalação de motores da fábrica italiana. Os carros da Copa Fiat de Velocidade ganharam uma novidade estética: a adoção do modelo Spazio, caracterizado pela nova frente, chamada por aqui de “frente Europa”.

As duas primeiras etapas do Torneio Rio-São Paulo foram vencidas por gauchos. Renato Connil venceu em Interlagos e Antônio Fornario no autódromo de Jacarepaguá. Na sequencia, a disputa voltou para Interlagos onde José Romano “Coelho” venceu. Na etapa seguinte, no Rio de Janeiro, foi a vez de Alexandre “Xandy” Negrão triunfar. Por fim, na quinta etapa do Torneio Rio-São Paulo, Luis Otavio Paternostro venceu a disputa. Renato Connil sagrou-se campeão do torneio.

As duas etapas finais do Campeonato Brasileiro de Fiat 147 seriam disputadas no mês de dezembro em Jacarepaguá e Interlagos. No circuito carioca, as vitórias ficaram com Renato Connil na primeira bateria e Atila Sipos na segunda. Na grande final em Interlagos, Atila Sipos foi o melhor e garantiu seu segundo título na categoria, deixando o gaúcho Renato Connil com o vice-campeonato. Foram quatro vitórias para Sipos na temporada e 17 pontos de vantagem para o segundo colocado.





Atila Sipos






















Janjão Freire liderando o pelotão










A comemoração de Atila Sipos
















A temporada de 1982


A temporada de 1982 cumpria o quinto ano dos Fiat 147 nas competições do esporte a motor nacional. O Torneio Rio-São Paulo foi aberto no autódromo de Jacarepaguá com vitória de José Romano “Coelho”, depois de muito lutar contra os cariocas Paulo Miranda e Murilo Pilotto. Coelho também faturou a segunda etapa em Interlagos no mês de abril e ganhou boa vantagem na pontuação do campeonato. A terceira etapa foi novamente disputada em Interlagos e dessa vez que venceu foi Luis Otavio Paternostro. A quarta e última etapa foi disputada novamente em Interlagos, com vitória de José Romano “Coelho”.

A primeira etapa válida pelo Campeonato Brasileiro de Fiat 147 foi disputada no autódromo de Jacarepaguá no mês de agosto. O gaúcho Renato Connil foi o vencedor. A segunda rodada do brasileiro foi disputada em Interlagos, no mês de setembro. Com uma temperatura fria no dia da corrida, Atila Sipos derrotou Renato Connil na busca pela vitória.

Para a terceira etapa, a categoria viajou para o planalto central, com a disputa no autódromo de Brasília. Lá, Atila Sipos conquistou sua segunda vitória consecutiva mas não foi possível retirar a liderança do campeonato do gaucho Renato Connil, que nesta altura tinha cinquenta pontos conquistados, dez à frente de Sipos. A quarta etapa do brasileiro em Goiânia viu mais uma vitória de Atila Sipos, a terceira no ano. A diferença para Renato Connil, o líder do campeonato nesta altura, caiu para dois pontos.

O certame voltou para Interlagos para o cumprimento da quinta etapa do Campeonato Brasileiro de Fiat 147. O público presente nas arquibancadas do circuito presenciou uma atuação impecável de Atila Sipos, que para conquistar mais uma vitória na temporada, segurou com maestria os ataques de Xandy Negrão, Luis Otavio Paternostro e seu adversario direto pelo título, o gaucho Renato Connil.

E foi em terras gaúchas que a temporada de 1982 do Campeonato Brasileiro de Fiat 147 teve a sua derrareira etapa. O placar dava conta de 80 pontos para Atila Sipos e 77 para Renato Connil. O circuito de Tarumã foi palco da conquista do título pelo piloto da terra Renato Connil, depois de conquistar o vice-campeonato na temporada anterior. Apesar do excelente desempenho na parte final do campeonato, Atila Sipos ficou com o vice-campeonato.

Depois de cinco anos, a Copa Fiat de Velocidade com os pequenos Fiat 147 deixava de existir como categoria monomarca. Os modelos da marca italiana passariam a compor o grid com carros de outras montadoras no Campeonato Brasileiro de Marcas e Pilotos, criado em 1983. E foi nesta temporada inaugural que o Fiat 147 levou o piloto mineiro Toninho da Matta para a conquista do primeiro título da categoria. Um fechamento de ciclo mais do que especial para este modelo que fez história no automobilismo de competição nacional.




























Os campeões e vices na história do Campeonato Brasileiro de Fiat 147


1978
Campeão: Atila Sipos
Vice-campeão: Luis Otavio Paternostro


1979
Campeão: Walter Soldan
Vice-campeão: Atila Sipos


1980
Campeão: Luis Otávio Paternostro
Vice-campeão: Antônio "Janjão" Freire


1981
Campeão: Atila Sipos
Vice-campeão: Renato Connil


1982
Campeão: Renato Connil
Vice-campeão: Atila Sipos




A primeira corrida de Fiat 147 do Brasil


Dedê Gomez contou para nós os detalhes da primeira corrida de Fiat 147 no país, disputada em Interlagos no ano de 1977


Você participou da primeira corrida oficial de Fiats 147 no Brasil, em 1977, em Interlagos. Como que surgiu a oportunidade de participar dessa prova? Nessa época você já competia pela Fiat nos ralis?

Dedê Gomes: a Fiat lançou seu primeiro carro no Brasil, em novembro de 1976 no Salão do Automóvel em São Paulo. Logo no início de 1977, janeiro, mantendo a tradição e participação da Fiat em corridas mundo afora, eles no chamaram para uma reunião com o Diretor Geral da Fiat no Brasil, Domenico De Bernardines. Na reunião estavam presentes o Diretor de Concessionarias e Assistência Técnica, Eugenio Robecchi Brivio, e o Diretor de Vendas Nacional, Roberto Bogus.

A ideia deles era criar algumas equipes de ralis em algumas concessionarias interessadas em competir nos campeonatos estaduais e brasileiro. Notadamente no Rio Grande do Sul, São Paulo, Paraná e Rio de Janeiro. Eles por outro lado queriam saber um panorama completo sobre as realizações desses campeonatos e as montadoras participantes com qual estrutura. Depois de nos ouvir, eles também informaram que iriam criar os campeonatos regionais e brasileiro de 147 em autódromos em 1978.

Para completar nos disseram que já haviam contatado concessionarias que se interessaram em formar equipes indicando que as duplas escolhidas seriam encaminhados para diferentes concessionarias. Aquilo foi uma surpresa agradabilíssima.

Mas eu tinha uma situação a resolver, pois eu competi em 1976 nos ralis regionais e brasileiro com um Chevette preparado “semi oficialmente” pela GM, através de uma concessionaria de São Paulo, Pereira Barreto. Já com a intenção de continuidade para 1977.

O desenvolvimento do carro foi cuidado pelo magnifico engenheiro e magistral caráter, chefe da engenharia da GM, Roberto Beccardi. E o trabalho realizado foi empolgante ao longo do ano com a evolução do carro, e ótima perspectiva na disputa contra os Passat da divisão “panzer” da VW que tinha uma frota de carros em todo o Brasil, e nos éramos peixe único.

Eis que o pessoal da Fiat chama mais a frente para nova reunião comunicando que eu seria destinado para a concessionaria Mirafiori de São Paulo com o patrocínio da Mobil Oil e um segundo carro reservado para o ralizeiro/organizador de ralis, Antônio Carlos Tirso e o navegador Brasil Leite. Dois ótimos amigos. Confesso que foi uma decisão difícil, e acabei aceitando a proposta. O Beccardi, gentleman como sempre, disse “é uma proposta que você não pode perder.”

E assim juntei a Fiat, e fomos para o primeiro rallye nacional em Teresopolis/RJ com algumas outras equipes, e…… não largamos!!!! O comissário desportivo da CBA a época, Amadeu Girão, informou que os carros não estavam homologados pela FIA e não poderíamos correr. Quebrou o pau por que queríamos ver as fichas de homologação dos outros carros. Que, obviamente não tinha em mãos, mas que a CBA confirmava!!!! Meu barulho foi tão grande que logo depois foi convidado a integrar o Departamento de rali da CBA presidido pelo gaúcho Luiz Milano. Detalhe é que a CBA,” como cortesia” permitiu que participássemos da prova de slalom como convidados. Eu ganhei a prova!!!!
E foi a primeira vitória de Fiat 147 em sua historia no Brasil.

Em novembro de 1977, e já como preparativo para a Copa Fiat de pista em 1978, a Fiat organizou a primeira corrida oficial de Fiats no Brasil, no autódromo de Interlagos, como preliminar de corrida do campeonato de Divisão 3 que era popularíssimo a época.

Poderiam participar todos os pilotos/equipes interessados e basicamente a preparação dos Fiat era livre, ate por que como primeiro ano de Brasil ainda não existiam equipamentos para “envenenamento” dos pequenos monstrinhos.

No sábado houve duas sessões de treino livre reunindo cerca de 20 carros, e a classificação para o grid seria através de uma prova de slalom na reta dos boxes.

Fui feliz e marquei o melhor tempo, com direito a troféu. E, largando na pole.


Você lembra qual era a configuração técnica dos carros que participaram dessa prova?

Dedê Gomez: os carros não tinham um regulamento definido, basicamente livre, pneus a vontade, mas os slicks ainda não cabiam nos carros, motores não eram extremamente preparados, mas já havia uso de carburadores Webber, taxa de compressão alta, e todos motores muito bem balanceados.


Você faz a pole position para essa etapa. Como foi essa classificação?

Dedê Gomez: no sábado houve duas sessões de treino livre reunindo cerca de 20 carros, e a classificação para o grid seria através de uma prova de slalom na reta dos boxes. Fui feliz e marquei o melhor tempo, com direito a troféu.


Você lembra quem eram alguns dos competidores dessa prova?

Dedê Gomez: havia uma boa quantidade de pilotos de ralis e alguns pilotos de pista: Francisco Sampaio, Decio D’Angelo, Roberto “Carreta” Savio, Professor Expedito Marazzi, Ubaldo Loli, Francisco Sampaio,


Como foi a corrida?

Dedê Gomez: eis que o domingo amanhece chovendo, corrida programada para pista molhada. Creio que 8 voltas no magnifico circuito completo de Interlagos com 8 quilômetros. Meu carro tinha pneus largos de rali e fiquei “vendido” na pista por que principalmente nas curvas deslizava demais. Mesmo assim consegui um bom resultado chegando em quarto lugar na vitória do Carreta que seria anos depois meu parceiro no brasileiro de marcas, com o Fiat Oggi.



Largada da primeira corrida de Fiat 147 do Brasil em Interlagos





Equipe Mobil Mirafiori - da esquerda.para a Direita: Brasil Leite, Antonio Tirso, Dede Gomez, Luiz Cagnoni.





Pódio da corrida com Roberto Savio no alto, à esquerda Pedro Troncoso, Dede Gomez, Decio D'Angelo e Daniel Zacarias. À direita, Mario Castanho de Almeida e abaixo Eugenio Robecchi-Brivio, diretor da Fiat




Dedê Gomez na chuva, escapando no S






Dedê Gomez comemorando a pole position


Nenhum comentário:

Postar um comentário