quarta-feira, 2 de fevereiro de 2022

A história inusitada de um Buggy que quase participou das 24 Horas de Daytona


O ano era 1970. Na edição das 24 Horas de Daytona daquele ano, um fantástico line-up de carros tomou parte da prova, como por exemplo os poderosos Porsche 917K, Ferraris 512S e 312P, Matra V12, só para citar os modelos da categoria esporte-protótipos. Porém, um simpático carrinho foi inscrito para participar daquela que seria a décima edição dessa importante prova de longa duração americana: um Buggy, desses que encontramos comumente em cidades praianas, andando nas areias e dunas com muita desenvoltura. Seria no mínimo pitoresco ver o simpático carrinho nas retas e curvas e principalmente na parte inclinada do traçado de Daytona.


O carro em questão era o Desert Volkswagen GS, produzido por uma pequena empresa americana liderada por Jon Krogsund, que também iniciou os trabalhos da equipe como piloto nos primeiros treinos em Daytona. O buguinho estava pintado de vermelho, foi inscrito com o numeral 44 e foi equipado com um simples santo-antônio atrás da cabeça do piloto, além de um pequeno pára-brisas. Nenhuma proteção adicional foi instalada, e era possível ver uma boa parte do corpo do piloto no trabalho da pilotagem. O motor era o tradicional Volkswagen refrigerado a ar, de quatro cilindros opostos dois-a-dois (boxer), com 1.700 cm³ de deslocamento.


O buguinho dividindo a pista com um Chevy Camaro



O buguinho foi enquadrado na categoria Protótipos (!), uma vez que, por tratar-se de um modelo fora-de-série, não se encaixava nos regulamentos FIA Grupo 1, 2, 3, 4 e 5, de carros de produção regular. Seus concorrentes na categoria seriam, por exemplo, os poderosos Ford GT40 e Matra V12. Mais um fato pitoresco nesta história!


O valente carrinho foi para os primeiros treinos, através da pilotagem do proprietário da fábrica, Jon Krogsund - estavam inscritos no carro ainda os pilotos norte-americanos Jim McDaniel e Steve Pieper. Pela tímida desenvoltura nas curvas e retas de Daytona, todos que acompanhavam as atividades de pista prendiam a respiração assistindo o buguinho em seu treinamento. E logo houve um incidente na pista - uma colisão na parte mista do circuito -, entre o bugue e o poderoso Porsche 917K, pilotado naquele momento pelo suíço Jo Siffert, que ficou furioso e pediu para a equipe formalizar uma reclamação junto à direção de prova, sob a alegação de que o carro era muito lento e que deveria ser excluído da prova.


A insólita imagem do bugue Desert GS à frente do Porsche 917K


O mais impressionante é que os comissários desportivos consideraram o incidente normal e indeferiram a reclamação da Porsche. Todavia, o fato foi o estopim para que o dono e piloto do carro, Jon Krogsund, retirasse o buguinho ali mesmo do fim de semana de prova, dando fim à aventura do insólito carrinho nas 24 Horas de Daytona de 1970. Pesou também na decisão, além do desempenho do carro, o fato de Krogsund ser também um representante de vendas não só da Volkswagen, mas também da Porsche nos Estados Unidos - o empresário não queria ter mais uma indisposição com os alemães e colocar, assim, em risco a sua parceria comercial.


Jon acabou por frustrar a todos que acompanhavam a prova, pois seria no mínimo curioso ver o buguinho dividindo curvas com protótipos e super-esportivos nas 24 Horas de Daytona.






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