sexta-feira, 17 de dezembro de 2021

A morte do Autódromo Internacional de Curitiba e as dificuldades do esporte a motor nacional





As tristes e violentas imagens de destruição invadiram as redes sociais nesta manhã. No vídeo, era nítido ver o asfalto da saída da curva da vitória, no Autódromo Internacional de Curitiba, ser dilacerado por uma retro-escavadeira. O incauto cinegrafista, de posse do seu celular, estava ali no meio dos destroços da pista, desviando da pá da máquina, num ato inútil de desespero tentando salvar o que não tinha mais jeito.


A imagem descrita acima está reproduzida abaixo e concretiza o que, de tempos em tempos, acontece no Brasil: a ameaça de algum autódromo nacional desaparecer, por motivos diversos, mas todos ligados ao interesse econômico de um nicho.






Entendo que a posse do Autódromo de Curitiba é particular e que, se o negócio não está revertendo lucro ou não tem mais o interesse para o dono, pode ser dado um outro destino ao patrimônio.


Mas será que haveria a necessidade de acabar assim? Porque no Brasil precisa-se destruir para construir?


Eu acredito que exista mais de uma resposta para esse conjunto de perguntas:

1- o esporte a motor no Brasil é estigmatizado como algo elitizado, para poucos. Sim, o esporte é caro. Mas não dá ficar nessa visão simplista. Faça comigo aqui um exercício: quantas pessoas direta ou indiretamente trabalham com o esporte a motor? Vamos listar alguns grupos aqui? Mecânicos, ajudantes, vendedores de auto peças, bandeirinhas, fiscais, ambulantes, vendedores de alimentação, limpeza e manutenção predial, equipes e seus integrantes, serviço de transporte, imprensa em geral... muito não é? Fora os colaterais e as famílias que se abastecem desse sustento. O que eu quero dizer é que o esporte a motor gera empregos, fomenta a economia, traz progresso. Mais uma vez, não se pode ter uma visão simplista;


2- não há interesse do poder público em incentivar e fomentar o esporte (e estou falando particularmente do esporte a motor, mas sei que isso se entende aos demais desportos). No caso de Curitiba, será que uma PPP (parceria público-privada) não resolveria e salvaria o autódromo? Esse desinteresse é visível lá mesmo no Estado do Paraná: é só dar uma passadinha no Autódromo de Londrina e ver o aparente estado de abandono. Infelizmente - e não é de hoje - o poder público e a política pouco ou nunca atua em prol do seu povo - situação que eu acredito que não mude tão cedo;


3- a inação da Confederação Brasileira de Automobilismo. Eu não vi / não soube (e se houve, fiquem à vontade para me apontar que eu publico) nenhuma ação efetiva da CBA para buscar salvar o autódromo, como por exemplo busca de parcerias, acionamento do poder público ou algo do gênero. Se a maior entidade do esporte a motor do país não se moveu para mudar a situação de um dos principais autódromos do Brasil, me parece que todo o resto ficou bem mais difícil.


Enfim, agora não há mais nada que possa ser feito. Então desça comigo a reta principal do Autódromo de Curitiba de pé embaixo, freie e reduza as marchas para o contorno direita-esquerda-direita do "Esse" de baixa, volte a pisar fundo na reta oposta, freie para a tomada a direita na entrada do miolo, volte a acelerar para chegar à esquerda na curva do pinheirinho, passe pelo "Esse" de alta, tome a direita para a curva da vitória e vamos cruzar, com lágrimas debaixo do capacete, pela última vez a linha de chegada. Descanse em paz, Autódromo Internacional de Curitiba, e muito obrigado pelos excelentes serviços prestados.



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