domingo, 18 de setembro de 2022

A história da Copa Corsa – Introdução



O mercado automotivo brasileiro do início da década de 1990 foi marcado pela disseminação dos modelos de veículos populares, com motorização até 1000 cilindradas. A largada foi dada com a redução da alíquota de IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados), de 40% para 20% que faria modelos com a motorização até 1 litro passarem a ter a possibilidade de preços mais atrativos. A situação econômica do país na época era de inflação e recessão, portanto, para as fábricas instaladas no país, esse benefício do imposto foi uma ótima ação para alavancar as vendas.



A Fiat saiu na frente, utilizando o seu produto mais popular e principal: o Fiat Uno. Com a versão Mille, inaugurou o segmento dos populares, em 1990. Passou a oferecer um carro espartano em acabamento, equipado com um motor de mil cilindradas, feito sob medida para as exigências do uso principalmente em cidade, pois era simples e econômico. O bloco do motor utilizado foi o Fiasa, já amplamente difundido na sua linha (já tinha existido com 1.050 cm³ de cilindrada), porém, transformado para redução até 1000cc. A potência ficou em torno de 49 cavalos. O preço inicial do Uno Mille era de 490.200 cruzeiros, moeda da época O sucesso entre o público consumidor foi imediato, o que criou automaticamente um movimento entre as fabricantes concorrentes para gerar modelos para combater o popular da Fiat.



Os concorrentes demoraram a reagir. A VW tratou de adaptar o Gol, o carro mais vendido do país à época. Criou o Gol 1000 em 1992, se aproveitando da parceria que tinha na época com a Ford, a joint venture Autolatina, já que tinha a sua disposição o motor CHT. O acabamento do Gol 1000 era também era básico, seguindo a receita da Fiat.



A Ford também não ficou para trás e apresentou seu concorrente para o seguimento dos populares, em 1993. Reaproveitou também um produto já existente, o Escort, só que em sua carroceira de versão anterior. Nascia o modelo Hobby, equipado com o mesmo motor 1.0 CHT do Gol 1000.



A Chevrolet também não quis ficar de fora dessa fatia de mercado, porém, utilizou um de seus produtos que já estava em final de vida útil: o Chevette, que estava em linha desde 1973, ganhou a versão Junior. O carro também teve seu motor adaptado para as mil cilindradas e seu acabamento empobrecido, porém não angariou sucesso entre o público consumidor.



Entretanto, a Chevrolet tinha uma carta guardada na manga já nessa época, direcionada para o segmento dos populares. Estava nos planos produzir aqui no Brasil o compacto europeu Corsa, que havia sido remodelado e modernizado a pouco tempo na Europa. A vinda do pequeno Chevrolet causaria uma revolução no segmento de hatches pequenos no país.




O pequeno Corsa trouxe modernidade para o mercado de carros populares nacionais



E foi a partir do primeiro semestre do ano de 1994 que o carrinho de formas redondas passou a ser produzido no país. Suas linhas modernas, seu pacote de equipamentos e a nova motorização atraiu a atenção do público consumidor, que correu para os revendedores da marca. Com a produção ainda no início, gerou-se o fenômeno da pouca oferta e muita procura. A prática da cobrança de ágio passou a ser frequente. A situação se tornou tão caótica que o presidente da General Motors do Brasil à época, André Beer, veio a público, através de uma publicidade veiculada em televisão, para orientar o público a não comprar Corsa naquele momento.



O sucesso do popular era nítido entre os consumidores, e esse sucesso se estenderia para as pistas de corrida, ainda no ano de 1994, com apoio da própria General Motors do Brasil.








Uma das primeiras aparições do Corsa preparado para as corridas foi no Salão do Automóvel de 1994. Eu vi o carro de perto e tirei algumas fotos em máquina de filme fotográfico. Porém, o modelo apresentado no Salão não foi de fato o que chegou nas pistas: tinha rodas de liga leve e pneus slicks, e ainda não estava equipado com santo-antônio. O carro que foi entregue aos pilotos era mais simples em preparação e, por consequência, mais barato.








O Corsa de corrida, fotografado por mim no Salão do Automóvel em outubro de 1994





O Corsa de corrida seria equipado com o motor de 1.4 litros e injeção eletrônica monoponto, que por previsões da época entregava por volta de 90 cavalos de potência. Trabalhos de polimento e ajustes na taxa de compressão - que poderia ir ao limite de 9,4:1 - poderiam ser realizados. Era permitido também alterar o escapamento a partir da saída do coletor de escape. 



Sobre a preparação das suspensões dos Corsas de corrida, o engenheiro Gerson Borini, que trabalhava na época na General Motors do Brasil, gentilmente nos informou que a calibragem das mesmas foi realizada dentro do Campo de Provas da fábrica onde foram alterados os rates das molas e a carga dos amortecedores, além da instalação da barra anti-rolagem do modelo esportivo GSi. Esse trabalho foi realizado pelo Gerson Borini e pelo engenheiro da Cofap, Mário Pinheiro. Como curiosidade, Borini nos revelou que chegou a ganhar em sorteio o direito de comprar um Corsa para disputa, mas por conta de um direcionamento para trabalhar na América Latina, acabou não dando seguimento ao projeto e repassou o direito ao piloto José Ricardo Fiaminghi.



Para finalizar os detalhes técnicos, as rodas utilizadas nos Corsas de competição eram as de produção, em aço e aro 13, e os pneus eram os radias de medida 165, perfil 70. Por fim, a carroceria utilizada seria a de duas portas, mais apropriada para a proposta esportiva.



Já no final do ano de 1994, o certame dos Corsas começava a ser criado. Foram organizadas corridas de demonstração e teste, tanto em Goiânia quanto em São Paulo.



Os Corsas foram para a pista na primeira corrida da sua história no país em um domingo, 13 de novembro de 1994. Ao todo, 31 carros tomaram o grid de largada, todos conduzidos por pilotos de Goiânia. Como curiosidade, sete pilotos não conseguiram comprar os carros diretamente da fábrica e precisaram pagar ágio nas concessionárias para concretizar a aquisição.



A corrida foi bem agitada, com muitas disputas, contatos e acidentes. Dois capotamentos assustaram o público presente nas arquibancadas e quem assistia a corrida pela televisão, na transmissão da Rede Manchete de televisão. Logo no começo da prova, o novato Wellington Justino escapou da pista no final da primeira grande curva e foi com velocidade para a grama. O pequeno Corsa alçou vôo em um capotamento espetacular, dando vários giros no ar. O conjunto de segurança do carro se mostrou eficiente e Justino saiu do incidente apenas com a poeira no macacão.










A espetacular capotada de Wellington Justino



A outra carambola envolveu o piloto Dailson Ramos, que rolou com seu Corsa no miolo do circuito, na área de escape de terra da pista goiana. Mais uma vez o piloto nada sofreu.










Dailson Ramos foi mais um a dar piruetas com seu Corsa em Goiânia




Depois de uma hora de prova, o piloto Fernando Henrique “Ike” Goulart entrou para a história ao se tornar o primeiro vencedor de uma corrida de Corsa. Mas não pense que foi fácil: a liderança da prova teve um total de cinco trocas de posição na ponta.



Resultado final:


1º - Fernando Henrique “Ike” Goulart – 19 voltas em 1h00min25s057 – média de 110,446 Km/h
2º - Marco Emílio Pires
3º - Luiz Calil
4º - Euripedes Reis
5º - Aírton Vargas
6º - Luciano Ferreira


Melhor volta: Paulo Quinan – 2min03s257 – média 112,010 Km/h




Paulo Quinan, autor da melhor volta em Goiânia







Euripedes Reis








O mar de Corsas descendo a reta de Goiânia





Luiz Calil







Fernando Henrique "Ike" Goulart entrou para a história ao vencer a primeira corrida de Corsas no país




A corrida em São Paulo contou com a participação de 28 carros, mais uma vez com os pilotos de Goiânia. O grid de largada ficou assim definido:


1º - Wellington Justino – 2min20s895
2º - Fernando Henrique “Ike” Goulart – 2min20s964
3º - Luiz Calil – 2min21s153
4º - Paulo Quinan – 2min21s380
5º - Leandro Azevedo – 2min21s835
6º - Marcos Pires – 2min21s993
7º - Renato Aguiar – 2min22s136
8º - Fábio Bove – 2min22s179
9º - Euripedes Reis – 2min22s446
10º - Dailson Ramos – 2min22s462
11º - Airton Vargas – 2min22s477
12º - Mario Loiola – 2min22s899
13º - Alladio Teixeira Jr. – 2min22s907
14º - Luciano Ferreira – 2min23s263
15º - Ubiratan Carvalho – 2min23s872
16º - Jorge Peixoto – 2min23s982
17º - Anderson Jorge – 2min24s020
18º - Hernani Itagiba – 2min24s052
19º - Eber Peu – 2min24s456
20º - Kroner Machado Filho – 2min24s571
21º - Nelson Soares – 2min24s664
22º - Dirson Maia Junior – 2min25s048
23º - Eleno de Paula – 2min25s448
24º - Ronaldo Jabur – 2min25s465
25º - Eugênio Barbosa – 2min25s939
26º - Anisio Spindola – 2min26s109
27º - Alexandre Rocha – 2min26s725
28º - Cláudio Cesar – 2min26s890



A briga pela liderança da prova foi polarizada entre Wellington Justino e Ike Goulart, sendo que Justino dominou boa parte da liderança e foi ultrapassado na última volta, na subida da reta dos boxes, por Goulart. A diferença entre os dois pilotos ao cruzar a linha de chegada foi de apenas 12 milésimos de segundo.


Resultado final:

Categoria A:


1º - Fernando Henrique “Ike” Goulart
2º - Wellington Justino
3º - Luiz Calil


Categoria B:


1º - Fábio Bove
2º - Eber Peu
3º - Anderson Jorge



Luiz Calil no final da reta principal de Interlagos




Ike Goulart venceu de novo, dessa vez em Interlagos





Após a realização das provas de demonstração no final da temporada de 1994, os campeonatos regulares começariam em 1995 em diversas praças, como por exemplo São Paulo, Goiânia, Rio de Janeiro, Brasília, Rio Grande do Sul, Fortaleza e Paraná. O esquema dos campeonatos juntava os 10 pilotos mais bem colocados na temporada em cada região para uma grande final, onde se decidiria que seria o campeão nacional da categoria.



Em 1995, na prova que decidiria o campeão brasileiro, no final do ano em Interlagos, a vistoria técnica acabou por desclassificar nada menos do que todos os pilotos. As diferentes aplicações do regulamento técnico em todos os campeonatos regionais causou esse fato inusitado. De qualquer forma, na pista, o campeão foi o piloto paulista Amadeu Rodrigues.











Rodolfo Pousa, Amadeu Rodrigues e Renato Frankental na primeira etapa da Copa Corsa de São Paulo, em Interlagos, no domingo dia 30 de abril de 1995




Na temporada de 1996, o campeão brasileiro foi o goianense Laércio Justino e o vice campeão foi Amadeu Rodrigues, que havia sido o campeão paulista daquele ano. Infelizmente, a General Motors do Brasil retirou seu apoio oficial naquele ano. Mas a história do Corsa nas pistas brasileiras não acabava por ali. Na segunda parte deste especial, continuamos a contar essa história, detalhando o maior certame de Corsas que existiu: a Copa Corsa Metrocar, realizada em São Paulo, criada por Sérgio Chamon, com televisionamento da ESPN Brasil e sucesso entre o público e os pilotos.



Amadeu Rodrigues (à frente do pelotão) sagrou-se bi-campeão da Copa Corsa de São Paulo em 1996, após conquistar três vitórias na temporada





André Gomide lidera a quinta etapa da Copa Corsa de São Paulo, em Interlagos





Os campeões na história da Copa Corsa:


Campeonato Brasileiro:


1995 - não houve campeão (todos os pilotos desclassificados)
1996 - Laércio Justino


Copa Corsa em São Paulo - campeões:


1995 - Amadeu Rodrigues
1996 - Amadeu Rodrigues


Copa Corsa Metrocar SP - campeões:


1997 - Eduardo Homem de Mello
1998 - Eduardo Homem de Mello
1999 - Categoria A - Luis Renato Frediani
1999 - Categoria B - Wagner Cardoso
2000 - Categoria A - André Bragantini Jr.
2000 - Categoria B - Renê Bauer
2001 - Categoria A - Domênico D´Ércolle
2001 - Categoria B - Leonardo Sanchez
2002 - Categoria A - José Vitte
2002 - Categoria B - Fúlvio Oliveira







Cláudio Campello, Copa Corsa Rio de Janeiro, temporada de 1996




















José Ricardo, Copa Corsa em Goiânia





Copa Corsa em Londrina, temporada de 1995, segunda etapa





Copa Corsa no Rio de Janeiro em 1996: Cláudio Campello, Marcius Stuchi, Marcus Motta e Elias do Nascimento Jr.




Cláudio Campello na Copa Corsa Rio de Janeiro em 1998








Copa Corsa em Londrina 1995







Eduardo Cunha, Copa Corsa RJ 1996





Elias do Nascimento Jr., Copa Corsa RJ 1996






Fábio Alves, Copa Corsa RJ 1996
















João Mendes, Copa Corsa RJ 1996





Marcius Stuchi, Copa Corsa RJ 1996





Marcus Motta, Copa Corsa RJ 1996




Nelson Silva Jr., Copa Corsa RJ 1996




Nelson Silva, Copa Corsa RJ 1996




Ulysses Bertholdo em 1995 na Copa Corsa do Rio Grande do Sul



















Wellington e Roberto Cirino, Copa Corsa no Paraná





    Rafael Cohen, campeão gaúcho de Copa Corsa em 1997






Copa Corsa no Rio Grande do Sul em 1998




Rodrigo Ribas, Copa Corsa gaúcha em 1998


















Imagens da Copa Corsa em Fortaleza, em 1999











Imagens da Copa Corsa gaúcha no ano 2000











Copa Corsa no Rio Grande do Sul no ano de 2001












As fotos a seguir foram gentilmente cedidas pelo amigo Juliano Bastos:

























5 comentários:

  1. Opa, mais uma grande categoria do automobilismo brasileiro sendo retratada neste ilustre blog! meus parabéns irmão, a matéria ficou ótima. Estou no aguardo da segunda parte, inclusive ansioso para saber sobre as corridas realizadas aqui no Nordeste. Grande abraço!

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  2. Existe ainda alguma corrida de carro no Rio de janeiro

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  3. Infelizmente, com o assassinato de Jacarepaguá, não mais...

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  4. Alguém tem foto da equipe thecnosys .. lembro que tinha uma equipe com esse patrocínio nos anos De 1995 em diante salvo engano podem mandar fotos? (43) 991096038

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