terça-feira, 1 de março de 2022

Do fundo do Baú - 12 Horas de Curitiba de 1993


(As fotos que ilustram essa matéria são de autoria de Nei Quadros)




Impulsionado pela matéria das 12 Horas de Curitiba de 1994, fui contatado por Paulo Serata, filho do saudoso piloto Ricardo Serata (nós estamos, inclusive, no grupo dos pilotos da Subida de Montanha), dizendo que a matéria havia chamado a atenção dele, pois seu pai, na lembrança dele, havia disputado uma prova de longa duração com o João Noboru Mita, o "Japa", na década de 90, quando Paulo era bem pequeno.



O "Japamóvel" - um VW Voyage encurtado - foi o grande carro da prova



Confirmei para ele que na edição de 1994 seu pai não havia corrido, mas que iria mandar para ele algumas fotos da edição de 1993, para ver se ele encontrava seu pai. E para nossa surpresa, encontramos Ricardo Serata em uma foto, ao lado de outros membros da equipe do Japa, junto do "Japamóvel". A partir de então, me comprometi a buscar mais informações e escrever uma matéria aqui no blog.


A edição de 1993 das 12 Horas de Curitiba foi a primeira da história dessa prova de longa duração realizada no Autódromo Internacional Raul Boesel. A prova recebeu carros das categorias Força-Livre, Marcas e também os Fuscas da Speed 1.600. Foi também um dos eventos que celebraram os 300 anos da cidade de Curitiba.


Os grandes favoritos à vitória na classificação geral eram o "Japamóvel", um Volkswagen Voyage encurtado em 15 centímetros na traseira, que se notabilizava por ser rápido e também resistente - criação de João Noboru Mita, o "Japa" -, além de um Puma AM4 equipado como motorização Volkswagen AP-1800 e diversos componentes de Fórmula 3, que andava muito rápido. Mais de 20 mil pessoas passaram pelas arquibancadas do Autódromo de Curitiba para acompanhar a prova de longa duração, uma excelente audiência!


As tomadas de tempo classificatórias foram realizadas na sexta-feira, dia 5 de março de 1993. Na primeira classificação, realizada de dia, o carro mais rápido foi o Puma AM4 da dupla Jair Bana e Tadeu Kowalczuk, que cravou o tempo de 1min35s371. Em segundo ficou o VW Passat do trio Amadeu Rodrigues, Francisco Maia e Oscar Chanoski, com a marca de 1min36s324. O terceiro carro mais rápido foi o VW Voyage da trinca Ariel Barranco, Javier Perez e Arthur Neto, com o tempo de 1min36s582.


Mais uma sessão diurna foi realizada e mais uma vez o Puma AM4 foi o mais rápido, dessa vez com o tempo de 1min35s934. Na sequência, veio o Passat de Amadeu Rodrigues, Francisco Maia e Oscar Chanoski, com a marca de 1min36s770 e em terceiro ficou o Aldee da trinca E. Mello, Sandro Kuschnir e Fernando Cella, com o tempo de 1min37s070.


E o domínio do Puma AM4 de Jair Bana e Tadeu Kowalczuk se completou na primeira tomada noturna, com o tempo de 1min37s711. O VW Passat do trio Amadeu Rodrigues, Francisco Maia e Oscar Chanoski foi novamente o segundo e em terceiro agora apareceu o VW Gol #6 da categoria Força Livre, guiado pela trinca Fernando Gessner, Márcio Panico e Ruslan Carta.


Na segunda e última tomada de tempos noturna, foi a vez do VW Voyage #44 do trio Ariel Barranco, Javier Perez e Arthur Neto marcar o melhor tempo - 1min37s391. O Puma AM4 de Jair Bana e Tadeu Kowalczuk foi o segundo mais rápido e em terceiro, ficou o Passat do trio Amadeu Rodrigues, Francisco Maia e Oscar Chanoski.


Após todas as tomadas de tempos realizadas na sexta-feira, as primeiras posições no grid de largada foram as seguintes:


1º - Jair Bana e Tadeu Kowalczuk - Puma AM4-VW AP-1800 (Categoria Força-Livre)
2º - Amadeu Rodrigues, Francisco Maia e Oscar Chanoski - Volkswagen Passat (Categoria Força-Livre)
3º - Ariel Barranco, Javier Perez e Arthur Neto - Volkswagen Voyage (Categoria Força-Livre)




Puma AM4 de Jair Bana e Tadeu Kowalczuk, o pole position da prova



Na categoria Marcas, o carro mais bem classificado foi o VW Voyage da tripulação formada por Bley Jr., Ike Zornning e Tazzio Borghesi. Na categoria Speed 1600, o Fusquinha mais rápido foi o conduzido pela dupla Stanley Wessler e Luiz Costa, que marcaram a melhor volta em 1min52s113. O segundo Speed mais rápido foi o da trinca Rogério Marqueto, Nweton Rocha e Gilson Franco, com o tempo de 1min52s977.


A largada foi dada à meia noite do sábado (6) para o domingo, 7 de março de 1993. O Puma pole position largou bem e manteve a liderança da prova por mais de 3 horas. Porém, após 93 voltas completadas, o desejo de vencer as 12 Horas de Curitiba foi desfeito por uma quebra na junta homocinética. Mais à frente, quem também abandonou a prova foi a dupla Flávio Trindade e Plácio Iglesias, com problemas na caixa de câmbio do Chevette.


E as 12 Horas de Curitiba fez mais vítimas. O VW Gol da tripulação formada por Gastão Weigert, Marcos Martins e Oscar Branco foram traídos pela bomba de óleo. Acidentes também tiraram competidores da prova, como o trio Francisco Maia, Amadeu Rodrigues e Oscar Chanoski, que escaparam na curva da vitória.


Com metade da prova cumprida, a tripulação do "Japamóvel" formada por João Noburu Mita, o "Japa", Julio Machado e Ricardo Serata assumiu a ponta na classificação geral, e foi abrindo vantagem, chegando confortavelmente para a vitória na primeira edição das 12 Horas de Curitiba de 1993.




O Japamóvel recebendo a efusiva bandeirada da vitória



Resultados finais:


Classificação final da prova - geral:


1º - João Noboru Mita / Julio Machado / Ricardo Serata
2º - Ariel Barranco / Altair Barranco / Edson Graczyk
3º - Bley Jr., Ike Zornning e Tazzio Borghesi
4º - Kaminski / Ângelo / Batistella
5º - Fernando Gessner, Márcio Panico e Ruslan Carta
6º - Macedo / Campos / Richa


Categoria Força Livre até 2 litros:


1º - João Noboru Mita / Julio Machado / Ricardo Serata
2º - Fernando Gessner, Márcio Panico e Ruslan Carta
3º - Bornemann / Moraz / Giublin
4º - Arthur Lançoni / Aragão Branco
5º - Bianco / Renato / Álvaro
6º - Gilson Reikdal / João de Lara Filho


Categoria Força Livre acima de 2 litros:


1º - João Noboru Mita / Julio Machado / Ricardo Serata
2º - Ariel Barranco / Altair Barranco / Edson Graczyk
3º - Bornemann / Moraz / Giublin
4º - Arthur Lançoni / Aragão Branco
5º - Juarez de Paula / Délcio Martins / Edson Martins
6º - Gilson Reikdal / João de Lara Filho


Categoria Marcas:


1º - Bley Jr., Ike Zornning e Tazzio Borghesi
2º - Kaminski / Ângelo / Batistella
3º - Macedo / Campos / Richa
4º - Bornemann / Moraz / Giublin
5º - Abreu / João / Jean Paul
6º - Lançoni / Aragão


Categoria Speed 1600:


1º - Bandeira Cazuni
2º - Moreno / Valter
3º - Jan / Bino / Mário
4º - Godas / José Adauto / José Freitas
5º - Galassi / Mário / Bueno
6º - Barreto / Carlos / Márcio



O Puma AM4 Nechi


O Puma AM4 de corrida estreou nas competições no ano de 1991 e foi direcionado para provas de longa duração, como por exemplo as Mil Milhas Brasileiras, conquistando diversas vitórias, com a sua vida útil nas pistas durando até o ano de 1994. Sua construção era especial e voltada para performance com durabilidade, e utilizava diversos componentes especiais.







No desenvolvimento do bólido, estiveram envolvidos os pilotos Jair Bana, Tadeu Kowalkzuc, Afonso Rangel e Artur Nunes. Além do próprio desenvolvimento da Alfa Metais e Veículos, empresa paranaense que construída naquela época os Pumas de rua, estiveram envolvidos na construção do AM4 Nechi a Universidade Tuiuti do Paraná e os preparadores Francisco Bontorim, Marcelo, Marcelino, Bily, Antônio Bonato, Paulo Gaida, Neneco e Nívio de Lima.


A ficha técnica do AM4 de corridas é muito interessante. O modelo é feito na base do AM4 de rua, vendido ao público. Porém, vários componentes oriundos da Fórmula 3 fazem o desempenho deste modelo ser muito especial. Seguem os detalhes técnicos da máquina:


Puma AM4 Nechi

Peso: 760 quilos
Carroceria: fibra de vidro
Motor: Volkswagen AP 1.800 cm³ refrigerado a água. Posição traseira
Combustível: álcool
Preparação do motor: dois carburadores Webber45 / Coletor de admissão Berta (Fórmula 3) / Polias reguláveis / Duas bobinas / Coletor de Escape especial de competição / Bomba de combustível elétrica / Retrabalhos em cabeçote e comando de válvulas
Potência: 198 cavalos (estimada)
Desempenho: 0 a 100 Km/h em 6 segundos / Velocidade máxima: acima de 243 Km/h
Câmbio: Hewland MK8 - cinco marchas
Embreagem: hidráulica, marca Girling
Diferencial: autoblocante
Suspensões: de triângulo inferior e superior, do tipo in board
Amortecedores: Koni
Rodas: 13x10 (traseiras) / 8x10 (dianteiras) - cubo rápido
Pneus: Pirelli Corsa P7 slicks - 225/40 (dianteiros) / 265/ 40 (traseira)
Freios: a disco nas quatro rodas, ventilados e perfurados, cilindros-mestre apartados (um para o sistema de freios dianteiro e um para o traseiro). Regulagem de equilíbrio
Caixa de direção: ZF
Tanque de combustível: construido em alumínio, bocal de abastecimento rápido - 80 litros
Interior: banco concha, cinto de quatro pontos, volante removível, painel de instrumentos com temperatura do líquido do arrefecimento, temperatura de óleo, conta-giros
Santo-antônio: tubos construídos em aço




Os faróis de milha auxiliares eram instalados para enfrentar as provas de longa duração



Foi realizado um trabalho de aerodinâmica na carroceria










A usina de força, um propulsor VW AP 1.800




As lindas rodas com cubo de acionamento rápido






Mais imagens das 12 Horas de Curitiba de 1993:





VW Voyage do trio Bley Jr., Ike Zornning e Tazzio Borghesi - vencedores na categoria Marcas





Fusca de Stanley Wessler / Costa / Marquetto





GM Opala do trio Ariel Barranco / Altair Barranco / Edson Graczyk - segunda colocação na classificação geral






































































































































































































































































































































Aldee do trio E. Mello, Sandro Kuschnir e Fernando Cella








































Fusca Speed 1600 de Marquetto / Gilson / Newton








Fusca Speed 1600 de Barreto / Carlos / Márcio


























Flávio Trindade e seu GM Chevette, que compartilhou com Plácido Iglesias





Fusca Speed 1600 de Jan / Bino / Mário























O belíssimo VW Voyage bastante modificado da trinca Javier Perez, Artur Netto e Ariel Barranco



















































VW Gol de Kaminski e Batistella
































Fusca Speed 1600 de Bandeira / Cazuni
























VW Gol de Gastão Weigert, Marcos Martins e Oscar Branco








O VW Gol de Ruslan Carta, Fernando Gessner e Mário Panico





Equipe Japa, a grande campeã



10 comentários:

  1. Parabéns a todos. aqui em Brasília eu nunca ouvi ninguém falar nada sobre essa que foi uma grande corrida ! Vc podem publicar a que PEDRO MUFFATÃO ganhou alguns anos depois?

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    1. Olá Ney. No Blog, fizemos ua matéria sobre essa edição que o Pedro Muffatto venceu (1994), em parceria com Gastão Weigert e Flávio Trindade, com Aldee equipado com motor VW de Fórmula 3. O link para a matéria está aqui: http://blogdocarelli.blogspot.com/2022/02/do-fundo-do-bau-12-horas-de-curitiba-de.html

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  2. Excelente Matéria!

    Eu estive nesta edição de 93 e na de 94, mas está de 1993 foi muito marcante, pois era um dos eventos ao longo do ano de 1993 em comemoração aos 300 anos aqui da cidade de Curitiba, e foi um grande evento.

    Eu tenho até hoje guardado o panfleto com toda a programação do evento.

    Eu lembro bem de como eu e meu pai ficamos surpresos do ritmo imposto pelo Puma(o mesmo do trágico incidente nas Mil Milhas brasileira de 94) e pelo Passat #2, os dois imprimiram um ritmo muito forte desde a largada, e ambos infelizmente abandonaram por quebras.

    Enfim, foi uma prova inesquecível pra mim, e sem dúvidas eu coloco ela no meu Top 5 das provas que eu pude assistir in loco no saudoso AIC desde aquele domingo de 1989 em que foi realizada a reinauguração do autodromo.

    Abraço!

    Mauro Santana
    Curitiba-PR

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    1. Legal Mauro! Muito interessante e marcante o seu relato. Muito obrigado por compartilhar. Abraço!

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  3. Terminei de ver as fotos com os olhos marejados, um nó na garganta e com muitas saudades dessa época e dos amigos que já se foram.
    Arrisco dizer que metade desse grid era composto por "terráqueos" com POEIRA NA VEIA! hahaha

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  4. Meu amigo, você se emocionou daí e eu me emocionei daqui... Grande abraço!!

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  5. na verdade quem realmente ganhou a corrida, e nem aparece o nome, foi o Aragão Branco e Claudio Branco. Nos 300 anos de curitiba de 1993, na categoria força livre.

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  6. Não procede essa informação! O resultado que o Carelli publicou na postagem é o correto, devidamente conferido com o que foi publicado na Edição 008 (Fev/Mar de 1993) da Revista Pista Livre, em sua página 09.
    O Aragão Branco fez dupla com o Artur Lançoni nessa prova, e finalizaram na 4ª posição na "Força Livre Acima de 2.0" e na 6ª posição na "Marcas", conforme resultado publicado na "Pista Livre" e corretamente reproduzido nesta postagem.

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