sexta-feira, 5 de novembro de 2021

Campeonato Brasileiro de Fórmula Chevrolet - Temporada de 1992


A Fórmula Chevrolet foi criada em 1992 e teve a sua última temporada realizada no ano de 2001. Nestes dez anos de existência, a categoria firmou-se como uma das boas opções para o primeiro passo do piloto que havia cumprido a sua carreira no kart de competição. O formato "monomarca" de chassis e motorização era um dos grandes triunfos oferecidos a pilotos e equipes. A categoria ajudou a revelar diversos talentos do nosso automobilismo para o Brasil e para o mundo, como por exemplo Felipe Giaffone, Tony Kanaan, Tarso Marques, Max Wilson, Helio Castroneves, Felipe Massa, Ricardo Zonta e muitos outros.




O Fórmula Chevrolet do piloto paranaense Tarso Marques



A inspiração para a criação da Fórmula Chevrolet foi na Fórmula Opel / Fórmula Vauxhall, disputada na Europa e que tinha apoio destas subsidiárias da General Motors. O chassi, que nos campeonatos europeus era construído pela renomada fábrica da Reynard, aqui no Brasil foi reproduzido sob licença pela empresa Techspeed, que também fabricava os chassis da Fórmula Ford. O chassi era construído em alumínio e a estrutura tubular em aço cromo-molibdênio, tecnologia de ponta dos carros de corrida da época. O fato de ser equipado com aerofólios dianteiros e traseiros reguláveis, ajudava muito no desenvolvimento técnico dos pilotos recém saídos do kart. O motor era o mesmo utilizado em terras europeias: o provado Opel C20xe de 2 litros e 16 válvulas, com 190 cavalos. A preparação e revisão dos propulsores ficou à cargo do Instituto Mauá de Tecnologia, que cuidava de todos os motores antes da entrega para as equipes. O custo era bancado pela General Motors do Brasil.


A ficha técnica do Fórmula Chevrolet, em sua fase inicial, era assim composta:


Chassi: Reynard / Techspeed
Construção: Monocoque em alumínio / estrutura tubular em aço cromo-molibdênio
Suspensão: independente nas quatro rodas
Freios: a disco nas quatro rodas / discos sólidos e pinças com dois pistões
Rodas dianteiras: 6 x 13 polegadas
Rodas traseiras: 8 x 13 polegadas
Pneus dianteiros: Bridgestone slick de 180 / 510
Pneus traseiros: Bridgestone slick de 210 / 570
Motor: Opel C20xe de 2 litros e 16 válvulas / quatro cilindros em linha / duplo comando de válvulas no cabeçote / dois carburadores de corpo duplo
Combustível: gasolina
Câmbio: Hewland / cinco marchas
Potência: 167 cavalos a 7.500 rpm´s
Peso: 488 quilos
0 a 100 Km/h: 2s50
Velocidade máxima (reta de 980 metros): 216 Km/h
Preço do carro (em 1993): US$ 55 mil
Custo da temporada (em 1993): US$ 150 mil


Com o apoio da fábrica da General Motors aqui no país, a Fórmula Chevrolet passou a integrar a programação dos fins de semana de corrida da Stock Car brasileira, que utilizava o Chevrolet Opala e depois mudou para o Omega. O evento com o tempo ganhou o nome de Chevrolet Challenge, que depois recebeu a Copa Corsa, com o lançamento do hatch compacto em 1994. A categoria de fórmula da Chevrolet recebeu um ótimo panteão de pilotos em toda a sua história e praticamente não teve mudança na sua estrutura básica. Os carros, no final dos anos 90, ganharam uma roupagem diferente na carenagem, o que deu uma modernizada no visual. Mas em 2001, a categoria um pouco mais enfraquecida sucumbiu. O ponto final foi escrito em 2002, com a estreia da Fórmula Renault, que trazia um pacote muito atrativo para pilotos e equipes, que consistia principalmente em um equipamento mais moderno, além de custos convidativos e a possibilidade dos pilotos experimentarem o mesmo conjunto mecânico e de chassi que disputava os campeonatos fora do país.







Depois de uma cerimônia de apresentação da categoria no Hotel Transamérica, em São Paulo, no dia 16 de março de 1992, que contou com um almoço especial, a estreia da Fórmula Chevrolet se deu em uma ocasião especial: como preliminar do Grande Prêmio do Brasil de Fórmula 1, em Interlagos, em uma prova extra-oficial onde os 20 pilotos se apresentaram defronte ao grande público aficcionado que aguardava ansioso o embate entre Ayrton Senna, Nigel Mansell, Michael Schumacher e companhia.


Etapa extra-campeonato - Interlagos (SP) - 5 de abril de 1992


Diante da molecada da categoria, o sorocabano Djalma Fogaça, de 29 anos, era classificado como "veterano" na Fórmula Chevrolet. Tendo feito a temporada de Fórmula Opel na Europa um ano antes, Fogaça estava "com a mão" do carro e logo cravou a pole position para a primeira corrida da história da Fórmula Chevrolet, com o tempo de 1min42s864. O jovem Tarso Marques marcou o segundo melhor tempo na classificação.


A largada da Fórmula Chevrolet foi dada às 9h55, com Djalma Fogaça partindo bem para a liderança da corrida. O sorocabano fez uma prova sólida e relativamente tranquila - tirando um problema de travamento no acelerador - e só foi ameaçado pelo jovem Tony Kanaan, que teve o infortúnio de ficar sem combustível no final da prova e terminar apenas na sexta colocação, quando tinha um pódio garantido. Completaram o pódio, ao lado de Djalma Fogaça (que recebeu a bandeirada com 30 segundos de vantagem para o segundo colocado), os pilotos Flávio Douglas Tito e Carlos Campos.








Resultado final:


1º - Djalma Fogaça - 18 voltas em 30min58s505 - média de 150,799 Km/h
2º - Flávio Douglas Tito
3º - Carlos Campos
4º - Tarso Marques
5º - Douglas Pitoli
6º - Tony Kanaan
7º - Albery Spinola




O pódio em Interlagos, da esquerda para a direita: Carlos Campos, Djalma Fogaça e Flávio Douglas Tito




1ª Etapa - Brasília (DF) - 7 de junho de 1992


A primeira etapa "pra valer" na temporada de 1992 da Fórmula Chevrolet seria disputada no seletivo circuito de Brasília. Um total de 21 carros estavam inscritos para a prova, um bom número para o começo de campeonato. A pole position foi conquistada pelo jovem goiano Ruben Fontes, de 16 anos. Os mais rápidos na classificação em Brasília foram os seguintes:


1º - Ruben Fontes - 1min59s351
2º - Djalma Fogaça - 1min59s543
3º - Hélio Castro Neves - 1min59s863
4º - Tony Kanaan - 2min00s338
5º - Ginno Fontes - 2min00s783


Fontes pulou na frente na largada mas perdeu a liderança para Djalma Fogaça, que é seu companheiro de equipe, já na primeira curva. Djalma liderou toda a corrida até a última volta, quando o jovem Ruben Fontes o ultrapassou na curva do placar, surpreendendo o sorocabano. Fontes caminhou para a vitória, entrando para a história como o primeiro vencedor de uma corrida oficial da Fórmula Chevrolet. Fogaça chegou em segundo e Hélio Castro Neves completou o pódio.


"Foi uma corrida difícil porque o Fogaça guia muito bem. Mas ele pensou que estava tudo liquidado e não esperava o ataque na volta final", relatou Ruben Fontes à reportagem do jornal O Estado de São Paulo. Decepcionado pela derrota, Djalma Fogaça também falou à equipe de reportagem: "ele é muito bom e vai longe no automobilismo".


Resultado final:


1º - Ruben Fontes (Equipe Texaco) - 15 voltas em 30min31s435 - 20 pontos
2º - Djalma Fogaça (Equipe Texaco) - 15 pontos
3º - Hélio Castro Neves (Equipe Corpal) - 12 pontos
4º - Ginno Fontes (Equipe Formulários Centauro) - 10 pontos
5º - Tony Kanaan (Equipe Arisco) - 8 pontos
6º - Marcelo Carneiro - 6 pontos



2ª Etapa - Curitiba (PR) - 28 de junho de 1992


A Fórmula Chevrolet rumou para a capital do estado do Paraná para a disputa da segunda etapa da temporada inaugural da Fórmula Chevrolet. O jovem paranaense Tarso Marques, de 16 anos, conquistou a pole position com o tempo de 1min23s748. Ao seu lado largaria o líder do campeonato, Ruben Fontes que conquistou o tempo de 1min23s783.


Tarso Marques manteve a boa performance dos treinos e venceu a corrida em Curitiba. O paranaense trouxe consigo para o pódio Djalma Fogaça e Hélio Castro Neves. Com os resultados, Djalma Fogaça assumiu a liderança do campeonato de pilotos.




Tarso Marques obteve em Curitiba a sua primeira vitória na temporada



Resultado final:


1º - Tarso Marques
2º - Djalma Fogaça
3º - Hélio Castro Neves
4º - Tony Kanaan
5º - Marcelo Tedesco
6º - Ruben Fontes


Classificação do campeonato de pilotos até o momento:


1º - Djalma Fogaça - 30 pontos
2º - Ruben Fontes - 26 pontos
3º - Hélio Castro Neves - 24 pontos
4º - Tarso Marques - 20 pontos
5º - Tony Kanaan - 18 pontos
6º - Ginno Fontes - 11 pontos



3ª Etapa - Cascavel (PR) - 23 de agosto de 1992


O circo da Fórmula Chevrolet rumou para o oeste do estado do Paraná para a disputa da terceira etapa da temporada, na desafiadora pista de Cascavel. Tarso Marques venceu mais uma, seguido de Djalma Fogaça e Tony Kanaan. Fogaça liderava neste momento o campeonato de pilotos, seguido de Ruben Fontes e Tarso Marques.



4ª Etapa - Guaporé (RS) - 20 de setembro de 1992


A quarta etapa foi vencida por Tarso Marques, que teve ao seu lado no pódio Djalma Fogaça em segundo e Marcelo Carneiro na terceira colocação. O campeonato agora teve uma virada, com Tarso liderando a competição com 60 pontos conquistados, seguido de perto por Djalma Fogaça, com 57 pontos.


Fogaça largou na pole mas logo perdeu a liderança para Tarso, que foi dominante e liderou todas as 28 voltas da prova. Djalma explicou porque não conseguiu manter a ponta da prova, em entrevista para o jornal O Globo: "cruzei a linha de chegada sem marcha". Já Tarso Marques era só alegria e também deu sua palavra para o jornal: "minha preocupação era assumir a frente."


A polêmica do dia foi o acidente entre Ruben Fontes e Hélio Castro Neves, que se enroscaram e bateram, na briga pela terceira colocação. No incidente, Helinho seguiu e Fontes abandonou a prova. Helinho explicou, do seu ponto de vista, o acidente para a reportagem do jornal O Globo: "ele, que já me tocara por trás antes, freou forte e desequilibrou meu carro. Não tive como evitar a batida." Ruben Fontes, bravo, não quis falar com a reportagem.



5ª Etapa - Goiânia (GO) - 25 de outubro de 1992


Na quinta etapa, foi a vez de Gino Fontes vencer, depois de assumir a ponta e dominar toda a corrida. Djalma Fogaça, o pole position, chegou em segundo e com os resultados, assumiu a ponta na tabela de pilotos, com 72 pontos. Tarso Marques era o vice neste momento, com 60 pontos e em terceiro vinha Ruben Fontes, com 51 pontos conquistados.


Resultado final da etapa:


1º - Gino Fontes
2º - Djalma Fogaça
3º - Carlos Campos
4º - Ruben Fontes
5º - Douglas Pitoli



6ª Etapa - Tarumã (RS) - 8 de novembro de 1992


A etapa em Tarumã teve uma reviravolta no campeonato de pilotos. Tarso Marques conquistou a pole position e venceu a prova, seu quarto triunfo na temporada. Tarso foi dominante e também cravou a melhor volta da prova, com o tempo de 1min05s263 e média de 166,367 Km/h de velocidade. Cinco segundos depois cruzou a linha de chegada o piloto Hélio Castro Neves e em terceiro, chegou Marcelo Tedesco.




O jovem Tarso Marques vinha sendo um dos destaques da temporada de 1992



Resultado final:


1º - Tarso Marques - 28 voltas em 31min05s572
2º - Hélio Castro Neves
3º - Marcelo Tedesco
4º - Douglas Pitoli
5º - Gino Fontes
6º - Djalma Fogaça
7º - Ruben Fontes


Depois dos resultados de Tarumã, com duas provas para o final, Tarso Marques assumiu o liderança do campeonato de pilotos, que agora tinha a briga pelo título entre Marques e Fogaça, com Helinho correndo por fora, e estava assim:


1º - Tarso Marques - 80 pontos
2º - Djalma Fogaça - 78 pontos
3º - Hélio Castro Neves - 61 pontos
4º - Ruben Fontes - 55 pontos
5º - Gino Fontes - 43 pontos
6º - Tony Kanaan - 35 pontos



7ª Etapa - Brasília (DF) - 22 de novembro de 1992


Chegamos à penúltima etapa do campeonato com a promessa de uma boa disputa pelo título de pilotos da primeira temporada da Fórmula Chevrolet. Afinal, apenas dois pontos separavam Tarso Marques de Djalma Fogaça, os dois postulantes a levar a taça de campeão para casa.


E a etapa no planalto central trouxe mais uma reviravolta no campeonato de pilotos. Djalma Fogaça venceu a corrida e Tarso Marques chegou apenas na quarta colocação. A prova teve uma polêmica manobra de Ruben Fontes, companheiro de Fogaça, contra Tarso Marques. Fontes foi multado pela manobra.


Seguem o resultado final da prova e a classificação do campeonato:


Resultado final:


1º - Djalma Fogaça
2º - Hélio Castro Neves
3º - Ruben Fontes
4º - Tarso Marques
5º - Carlos Campos
6º - Douglas Pitoli


Classificação do campeonato até o momento:


1º - Djalma Fogaça - 98 pontos
2º - Tarso Marques - 90 pontos
3º - Hélio Castro Neves - 76 pontos



8ª Etapa - Interlagos (SP) - 6 de dezembro de 1992


Interlagos era o palco para a decisão do título da primeira temporada da história da Fórmula Chevrolet. O jovem Tarso Marques, de apenas 16 anos, e o veterano - e ainda jovem - Djalma Fogaça, eram os pilotos que podiam conquistar o título. A favor de Fogaça, a experiência e conhecimento do equipamento, uma vez que no ano anterior havia disputado o campeonato europeu de Fórmula Opel. Já Tarso Marques tinha a vontade e a gana comuns da juventude como triunfos a favor.


Tarso Marques começou bem o fim de semana da decisão, cravando a pole position para a prova. No domingo, largou bem, manteve a liderança da corrida, estava rápido - marcou a melhor volta com o tempo de 1min41s38 - mas na décima-segunda volta, uma quebra da suspensão traseira tirou o piloto paranaense de combate. Tony Kanaan, que vinha em segundo, assumiu a ponta e rumou para a vitória. Djalma Fogaça finalizou a corrida na quinta colocação e garantiu, na pista, o título de 1992. Quando eu digo na pista, é porque Fogaça vinha sofrendo com um processo no Tribunal Desportivo da Confederação Brasileira de Automobilismo. A acusação contra o sorocabano decorria da manobra contra Tarso Marques - em que seu companheiro de equipe Ruben Fontes também estava envolvido - na etapa de Cascavel, que culminou com a saída de pista de Marques.




Tony Kanann venceu a última etapa de 1992



Djalma Fogaça desabafou, depois da prova, em entrevista para o jornal O Estado de São Paulo. Aspas para ele: "após dez anos de automobilismo no Brasil, não tenho mais paciência para aguentar tantas brigas na Justiça". O sorocabano também falou para o jornal O Globo: "o campeonato é uma guerra. Sofri uma pressão tremenda, coisa para perder o gosto pelo automobilismo. Não aguento mais isso."


Tarso Marques mostrava-se resignado depois da corrida. Ele deu a sua palavra para a reportagem do jornal O Globo: "Fiz um bom papel em meu primeiro ano no automobilismo, já que venci quatro corridas e fiz quatro poles. Faltou mesmo sorte para fechar a temporada com chave de ouro." Com os resultados, Tarso finalizou o campeonato de pilotos na terceira colocação - um ponto atrás de Hélio Castro Neves.


E o título foi confirmado posteriormente para Djalma Fogaça, depois dos julgamentos do Tribunal da CBA. Foi o desfecho fora da pista de um ano bem intenso e movimentado na primeira temporada do Campeonato Brasileiro de Fórmula Chevrolet. Sem dúvida, o destaque da temporada foi a revelação de jovens talentos, como Tarso Marques, Tony Kanann, Hélio Castro Neves e muitos outros. A promessa era de mais emoções e disputas para o campeonato de 1993, mas isso é assunto para a próxima postagem dessa série.


Resultado final da prova:


1º - Tony Kanaan
2º - Hélio Castro Neves
3º - Ruben Fontes
4º - Gino Fontes
5º - Djalma Fogaça


Classificação final do campeonato:


1º - Djalma Fogaça - 106 pontos
2º - Hélio Castro Neves - 91 pontos
3º - Tarso Marques - 90 pontos



Mais imagens da temporada de 1992:




Djalma Fogaça liderando o pelotão






Paulo de Tarso e seu filho, Tarso Marques, com as duas máquinas da equipe Action Power: o Opala Stock Car e o Fórmula Chevrolet





Rubens Barrichello e Djalma Fogaça (no cockpit)





Tarso Marques e seu Fórmula Chevrolet "pregado" na parede do seu quarto





A marca de condimentos Arisco patrocinava Rubens Barrichello (que em 1991 ganhou a Fórmula 3 inglesa e em 1992 disputaria a Fórmula 3000) e Tony Kanann na Fórmula Chevrolet






Djalma Fogaça comemorando um de seus triunfos na temporada





Tony Kanaan foi um dos jovens destaques do primeiro ano da Fórmula Chevrolet





Djalma Fogaça





Tarso Marques lutou pelo título até a última etapa






Tony Kanaan





O campeão da temporada 1992 pela equipe Texaco/Petrópolis, o sorocabano Djalma Fogaça




3 comentários:

  1. Parabéns Rodrigo. Muito bem escrita sua matéria.

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  2. Meus parabéns irmão! O início de mais uma série memorável sobre esta categoria que foi muito importante para o automobilismo brasileiro nos anos 90.

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