O argentino é um grande fanático por automobilismo. Seus campeonatos nacionais são sucesso de público e também de participações, com grids enormes e uma quantidade de categorias de fazer inveja a qualquer confederação de automobilismo. Lá o incentivo fiscal para as montadoras instaladas no país é dado em contrapartida ao investimento feito no esporte a motor. Tal fato ajuda muito a Argentina ter um automobilismo muito profícuo.
Na América do Sul os argentinos foram os pioneiros no esporte. Receberam a Fórmula 1 antes de todos e tinham já na década de 50 um automobilismo bastante evoluído, com muitos equipamentos vindos da Europa. As carreteras e as provas de estrada foram o grande alicerce para que renomados pilotos como Froilán Gonzalez e Juan Manuel Fangio ganhassem o mundo - e fizessem grande sucesso.
Em 1969, os argentinos encararam uma epopéia na Europa, mais precisamente em Nurburgring, ao participar da prova de resistência "84 Horas de Nurburgring" com uma equipe toda nacional e um carro construído e preparado na Argentina, o tão adorado Renault Torino. Toda a preparação ficou a cargo do grande mago Oreste Berta. A competição mobilizou toda a Argentina, que acompanhou os 3 dias e meio de prova pela transmissão de rádio. E o Torino dos nossos "hermanos" não fez feio. Ao contrário, fez frente ao poderio internacional, chegando a liderar boa parte da prova. Uma quebra de escapamento fez o Torino se atrasar e ficar alijado da vitória. Finalizou em quarto, um sabor de vitória para os argentinos.
O Renault Torino em ação no traçado de Nurburgring em 1969
E inspirados nessa corrida, os argentinos criaram no ano 2000 as 84 Horas de República Argentina. Para isso, elegeram o Autódromo Oscar Galvez - sim, o mesmo que abrigou a Fórmula 1 - para a epopéia. A opção de traçado escolhida foi a de número 12, que compreende um trecho de 5,6 quilômetros de um grande anel externo. Qualquer tipo de automóvel seria admitido na corrida, desde que devidamente equipado com os itens de segurança - extintores, bancos, cintos de competição e santoantônio. Grupos de pilotos profissionais e também amadores se entusiasmaram em montar equipes, que tinham que conter pelo menos 4 pilotos titulares e 1 reserva para encarar as 84 horas - 3 dias e meio - de corrida.
O brasileiro Cacá Bueno participou da prova na equipe oficial da Peugeot com o 306 Sedan
Então, entre os dias 23 e 27 de fevereiro de 2000 as 84 Horas de República Argentina foram realizadas. Foi organizada uma largada simbólica em frente ao prédio do Automóvel Clube da Argentina, com a ilustre presença do presidente do país, Fernando de La Rua, além dos fanáticos torcedores - mais de mil pessoas presentes -, na noite do dia 23. De lá, os competidores partiram para o Autódromo Oscar Galvez para o início das disputas.
O traçado número 12 do circuito Oscar Galvez, o palco das 84 Horas da República Argentina
Grandes pilotos do automobilismo argentino participaram: Ernesto "Tito" Bessone, Juan Maria Traverso, Oscar "Poppi" Larrauri, a família Di Palma, Oswaldo "Cocho" Lopez, Emiliano Spataro, Luis Soppelsa e muitos outros. Alguns pilotos tiraram o capacete do armário e deixaram a "aposentadoria" e lado, como Cacho Franco, Angel Monguzzi, Alfredo Pisandelli e outros. E não podia faltar brasileiro: o jovem Cacá Bueno, que era contratado da Peugeot Argentina - foi campeão do Superturismo Sudam em 1999 - participaria da prova com um dos Peugeot 306 Sedan inscritos.
A movimentação antes da maratona
Como foi dito anteriormente, qualquer tipo de veículo era aceito na corrida. Dessa forma, uma gama variada de modelos tomou parte da prova, como por exemplo um Fiat 600, um Peugeot 403 fabricado no longíquo 1951 e um Torino semelhante ao que disputou as 84 Horas de Nurburgring em 1969. Entre os carros mais novos, foram inscritos Audi A3, Peugeot 306 sedan, Volkswagen Gol e Gacel (o nosso Voyage de primeira geração), Toyota Corona, Daewoo Nubira, Hyundai Elantra, Chevrolet Corsa, Mercedes Classe A190, Fiat Uno, Alfa-Romeo 156 e muitos outros, criando uma curiosa miscelânia no traçado do Oscar Galvez. A maioria optou por motores movidos à diesel, por conta do baixo consumo que exigiria menos paradas de boxes.
Após 3 dias e meio de maratona, a vitória ficou com o Audi A3 da tripulação formada por Ernesto "Tito" Bessone, Negro Monguzzi, Daniel Mustafá e Luis Soppelsa. Segundo a equipe, a chave da vitória foi o ritmo constante de corrida, que fez com que o equipamento não sofresse as constantes trocas de pilotos ao longo das 84 horas de prova. Infelizmente, nunca mais repetiram esta corrida, que ficou marcada no automobilismo argentino e ao passado completou 20 anos de realização.
O Audi A3 dos vencedores
O clássico e consagrado Renault Torino
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